Fábio Gomes fala da importância  da reputação e do equilíbrio entre comunicação e conhecimento da política pública para o sucesso de uma campanha eleitoral

A boa reputação está no centro de uma candidatura eleitoral. É o que acredita Fábio Gomes, sociólogo e CEO do Instituto Informa. O centro de inteligência política e mercadológica organiza o seminário “Política Pública, Dados, Segurança Jurídica e Bem-Estar: 4 Pilares para uma Comunicação Eleitoral Eficiente”.

O evento será no dia 23 de maio, a partir das 14h, no Windsor Florida Hotel, no Rio de Janeiro. Serão seis palestras com que apresentam quatro pilares fundamentais para a construção de uma comunicação eleitoral eficiente. Os argumentos serão posteriormente compilados em um e-book com distribuição gratuita.

Fábio Gomes será responsável pela abertura do evento, em um painel sobre reputação política e a importância do equilíbrio entre uma boa comunicação e o conhecimento sobre as necessidades dos eleitores para a promoção do bem-estar. Ao portal Balizah, o sociólogo deu uma prévia de sua palestra para o seminário. Confira a entrevista:

O que se espera de uma candidatura política?

Isso é algo que investigamos desde o início das nossas atividades, em 1996. Os instrumentos se refinaram, mas os interesses das pessoas acerca do meio político seguem perenes. É claro que há muitos tipos diferentes de eleitores, mas chegamos a um modelo que, apesar de diferenças regionais, é explicado por algumas dimensões.

Primeiramente, eleitores querem um político que saiba fazer, que tenha habilidades, formação técnica e conhecimento político para exercer sua função. Para além disso, é preciso saber o que fazer. Não adianta ter competência, mas não entender as demandas de uma região, e isso se dá pelo conhecimento dos dados e estatísticas da região, ou pela presença ativa do candidato nos bairros.

Outra percepção do eleitor é que um político não consegue tirar projetos do papel sozinho. Isso exige boa articulação e negociação. E o emocional também é importante – o jeito que o candidato se veste faz diferença, assim como suas atitudes, como ajudar um idoso a atravessar a rua ou tratar bem sua família.

Por fim, há uma dimensão ideológica, pensada em resolver problemas com abordagens específicas. A direita e a esquerda querem educação de qualidade, mas cada um tem os próprios caminhos para atingir esse objetivo. Assim, cada eleitor busca seus candidatos.

 

Nesse contexto, como se constrói a reputação política e eleitoral?

Reputação política e eleitoral é sobre se aproximar daquilo que as pessoas idealizam para atender suas demandas de bem-estar. Qual é o candidato que pode atender ao que eu mais preciso? Isso varia de eleitor para eleitor.

Há, por exemplo, um aspecto regional. Uma mãe de crianças no ensino fundamental pode ter interesses diferentes de sua vizinha, com filhos adultos e uma demanda de saúde pública. Agora, as duas podem votar em um mesmo candidato se ele demonstrar habilidade para resolver os problemas daquela comunidade.

Outro reduto eleitoral é o temático, de candidatos que defendem bandeiras específicas. São políticos da causa animal, da educação, da saúde, da defesa da mulher, da diversidade, do meio ambiente e até da religião. Aqui, a reputação puxa um voto de opinião, que reúne eleitores de interesses e conexões diversos.

E há reputações que se constroem a partir de conexões políticas. Um eleitor tem interesse em um governador, então ele procura um candidato a vereador ou um partido ligado a esse político. É uma questão de idealização, que tem a complexidade de atender a interesses e alcançar aquilo que as pessoas precisam e consideram como resposta para promoção do bem-estar.

E como a boa comunicação interfere nessa construção de reputação?

Podemos nos voltar para os comportamentos de gestão, de relacionamento e de informação com o eleitor, algo que está no campo comunicacional. É preciso gerenciar a informação sobre o que o candidato vai fazer, o que ele pretende, suas entregas, suas qualidades.

A partir daí, é preciso gerenciar relacionamentos, demonstrar interesse pelos eleitores e por suas propostas. O eleitor busca acertar pelo voto, busca uma solução e informações que ajudem nessa tomada de decisão. A comunicação tem um peso enorme, assim como o entendimento das dinâmicas políticas e sociais para o qual o candidato se dedica.

O que a gente tem discutido, no campo dos planejadores de campanha, é que precisamos ir além da “marquetagem”. Uma coisa é ensinar o candidato de essência forte a ser popular e discursar bem. O detalhe é que há quem queira apenas se comunicar bem e não tem uma boa essência, nem uma boa missão, conhecimento de causa ou mesmo habilidade para fazer. Ele só quer se comunicar para ganhar voto, ter poder, alçar voos maiores.

Diante disso, temos refletido sobre a importância de pensar a política, em projetar uma campanha em que o candidato não é apenas bom de comunicação, mas também tem um bom entendimento de realidade social: ‘eu sei fazer, eu sei o que fazer, eu consigo fazer, eu quero fazer e eu sei como fazer’. Isso vai além do discurso, de ser bom de lábia, mas de estruturar a campanha pensando nas pessoas e na promoção do bem-estar de cada um.

Qual a importância do seminário e o que ele pretende debater?

Uma campanha política não pode ser apenas vistosa, mas ter bases sólidas. Nossa expectativa é de conversar com planejadores de campanha, gente que pensa em políticas públicas, que está diante de um processo comunicacional e que precisa equilibrar o jogo entre comunicação e as questões mais técnicas que estruturam uma campanha.

A questão reputacional está na base de tudo. Quando falamos sobre política pública nos campos do desenvolvimento social, da empregabilidade, da leitura de dados, da promoção dos serviços públicos de qualidade e da proteção contra fake news e artimanhas jurídicas, falamos sobre reputação. E há uma ligação entre a comunicação e as questões estruturantes de uma campanha.

Esperamos contribuir com os pensadores das campanhas, mostrando a necessidade de se ter pessoas de comunicação, que falem como eleitor e trabalhem as habilidades comunicativas do candidato nos diferentes meios, e pessoas de políticas públicas, que levantem informações, trabalhem em um projeto de governo eficaz, pensem a política pública moderna.

O que eu posso fazer? Qual é o orçamento público? Quais são as minhas possibilidades de realizar a política pública de destaque? Como é que eu posso tratar a comunicação com os pés no chão? Como é que eu posso equilibrar essas questões? Diante desses fatores, a gente espera ampliar a cabeça desses pensadores para fazer campanhas sem engano e com bom relacionamento com o eleitor. E, claro, um bom gerenciamento reputacional.