Campanhas eleitorais são hoje uma batalha de muitas frentes e uma delas ocorre no ambiente digital. Embora ainda não seja uma representação estatisticamente precisa dos eleitores em geral, o campo digital mobiliza aqueles mais engajados. São eles os novos cabos eleitorais. Esses eleitores fazem barulho, enfrentam e participam de ondas de opinamento, disseminam informações, defendem os candidatos, criticam. Esses movimentos são influenciados pelo mundo offline, mas podem também produzir efeitos para além das redes e, por isso, merecem atenção dos competidores.

No Instituto Informa, desenvolvemos pesquisas com foco no clima das redes. O nosso mais recente estudo sobre a pré-campanha para a prefeitura de São Paulo foi produzido entre os dias 28/03 e 04/04, com a extração de mais de 5 mil registros nas principais redes digitais (Twitter, Facebook e Instagram).

Os resultados indicam que a disputa na capital paulista está fortemente associada à polarização política. Quase 40% das postagens buscaram marcar diferenças como Lula versus Bolsonaro ou menções à esquerda ou à direita. Para todos esses casos, as mensagens foram classificadas como “ideológicas”.

Para produzir a amostra, utilizamos um software orientado por Inteligência Artificial que coleta os dados, classifica cada post (positivo, negativo e neutro), além de marcar os temas abordados (saúde, educação, infraestrutura etc). A coleta foi direcionada para todo e qualquer conteúdo que mencionasse os pré-candidatos de São Paulo.

A segunda etapa do estudo envolveu a revisão humana, com a análise crítica das postagens, retificando ou ajustando as classificações, além de produzir contextualização. Outro resultado que chama atenção foi a centralidade das mensagens que mencionam Guilherme Boulos no período analisado. Em cerca de 72% dos casos, o post citava o candidato do PSOL, seguido por Ricardo Nunes (MDB) com 14,5%), e Tabata Amaral do PSB, com 7,6%.

A estrutura da rede demonstra essa distribuição. A rede em torno de Boulos é bastante densa, e quase sempre associada a temas como Religião, Privatização e Ideológico. O tema religião, inclusive, explica muito das postagens negativas para Boulos. A publicação de uma charge pela conta do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), em que Jesus Cristo aparece crucificado, acompanhado da legenda “bandido bom é bandido morto”, teve uma grande repercussão negativa e com as contas associando o MTST a Boulos.

No geral, o ambiente digital da pré-campanha de SP esteve bastante negativo no período analisado. Cerca de  67% das postagens foram de críticas aos candidatos, com destaque para Boulos, com 73% de casos. Ricardo Nunes registrou 60% e Tabata Amaral, 49%. Contribui para as citações negativas de Boulos, a publicação do movimento sem-teto, enquanto para Nunes identificamos críticas à gestão da cidade, problemas na condução da epidemia de dengue e da falta de energia na capital.

A análise da distribuição das menções mostra que os conteúdos classificados como “Privatização” tiveram proporcionalmente mais posts positivos (97%), especialmente, por envolver uma declaração de Boulos propondo um plebiscito para discutir a privatização da Sabesp. O comentário foi compartilhado pelos eleitores, em apoio à proposta da liderança do PSOL, ganhando, portanto, avaliação positiva para a pré-candidatura de Boulos. No outro extremo, o termo Religião, também muito associado a Guilherme Boulos, em razão das críticas à postagem do MTST, teve majoritariamente valência negativa (98%). Com percentuais mais próximos da média, estão Ricardo Nunes, Kim Kataguiri, Tabata e Salles. Apenas Tabata, contudo, registrou percentual de negativas abaixo de 50%.

Nos próximos meses, o Instituto Informa pretende desenvolver mais estudos com foco no ambiente digital, procurando compreender o comportamento das redes para outros temas de alcance nacional.