As redes sociais têm duas funções essenciais: relacionamento e entretenimento. Desde que começaram a ser usadas no Brasil, no início do ano 2000, servem como meio de se comunicar com as pessoas – principalmente as que estão distantes – e para saber, de maneira instantânea, o que está acontecendo no mundo. Mas há muita gente que ainda não sabe usar suas potencialidades, principalmente os políticos, que não têm alcançado de forma satisfatória o eleitorado, tanto para cativá-lo quanto para prestar contas.

Explica-se. Pesquisa realizada no fim de maio pelo Instituto Informa, unidade de negócio da Bateiah Estratégia e Reputação, mostrou que poucos são aqueles que acompanham a atuação de seus candidatos parlamentares, principalmente pelas redes. Há quem sequer se lembre em quem votou nas últimas eleições. Das 520 pessoas ouvidas em São Paulo, por exemplo, espalhadas por 35 municípios, 86,7% não seguem nenhum deputado estadual, enquanto 86,5% não acompanham nenhum parlamentar federal.

É o caso da confeiteira Tais Orsioli, 44 anos. “Acho política muito chata, porém é muito necessária. Mas o formato que sempre é apresentado, desde o programa eleitoral até o momento do voto, não é atrativo. A gente tem essa cultura de que político é sempre desonesto, nada funciona, que tem sempre os favorecidos. Não acompanhar é uma coisa que tenho consciência que é ruim e isso faz com que eu não brigue e não lute pelos direitos que sei que a gente tem.”

Taís reclama que muitos candidatos só aparecem na época das eleições, para pedir voto, e depois, inclusive quando perdem, não se sabe o que estão fazendo, inclusive se estão trabalhando em prol da sociedade. “Por isso, geralmente, voto em deputado estadual e federal por indicação e não costumo seguir nas redes. Como não acompanho, fico refém do que as pessoas veem oferecer. Muitas vezes anulei meu voto por causa disso.”

 

 

Falta conhecimento e interação

Mas será que realmente as pessoas sabem o que faz um deputado estadual e federal? “Tenho quase certeza de que a maior parte dos eleitores não tem ideia do que são as esferas municipal, estadual e federal. E isso não só deputado, senador também não. Existe uma ideia um pouco melhor para cargos executivos, prefeito e governador. E vou te dizer que tem até caso dos legislativos, ele mesmo não sabe qual era o papel dele”, explica o consultor de comunicação política e professor de marketing político, que participou de campanhas em todo Brasil, Marcelo Vitorino.

Especialista em engajamento nas redes, ele acredita que para o político ter sucesso entre os seguidores, e atrair mais deles, é necessário promover a interação entre o conteúdo e o eleitorado. “Hoje há uma falta de profissionalização da comunicação. Antigamente a classe política, para conversar com o cidadão, tinha um tipo de profissional chamado assessor de imprensa. O assessor fazia um release com as pautas daquele político, enviava para a mídia tradicional, que trabalhava aquele release e publicava uma matéria, chegando até a população. Quando vem as redes sociais, ele (político) entende que é a mesma coisa e o assessor não tem a habilidade de fazer um conteúdo. E digo isso não de forma pejorativa, mas eles não foram preparados para este tipo de conteúdo, não têm habilidade de preparar um conteúdo de interação com o usuário.”

 

Como chegar mais perto

Vitorino explica que quando um eleitor busca um conteúdo no Google, quer saber mais sobre o tema. “Mas quando ele está em uma rede social, o interesse não é aprofundamento. Em geral, tem dois objetivos básicos: entretenimento e relacionamento. O momento do eleitor diante de uma rede social, em que geralmente ele faz em uma tela de celular, não pede um conteúdo informativo, quer um conteúdo de entretenimento. E você tem de colocar a informação dentro do entretenimento.” De que adianta, então, dizer que destinou R$ 3 milhões em emenda para determinada cidade, se o cidadão não sabe de que maneira será empregada a quantia? Tem de se saber contar histórias, humanizar a informação, para que o seguidor se identifique e passe a segui-lo.

Como não há este entendimento profissional, se sobressai aquele político que faz um discurso polêmico, polarizante. “Aí o algoritmo da rede social gosta de manter a atenção do expectador. Mas a maioria dos parlamentares não é polêmico, é do cotidiano. Você não tem como polarizar a entrega de um projeto, um hospital. Por isso, é preciso ter técnica e saber usar a rede social com técnica e profissionalismo”, diz Vitorino.

 

Quem é o seguidor?

Das pessoas ouvidas em São Paulo, quem mais acompanha os políticos, ainda que seja um número baixo, são os eleitores de maior renda, com mais de 10 salários mínimos, cerca de 28,4%. A atuação dos parlamentares também chama atenção de 15,6% dos paulistas que têm de 40 a 49 anos.
Segundo Vitorino, estes dados se devem ao perfil de quem usa internet. Ele vê, no entanto, grande oportunidade para os políticos, inclusive nas próximas eleições, para atrair mais seguidores. “Provavelmente aquele que já não segue o parlamentar também não tem interesse na política. Então, ninguém fisgou ele. Aí fica uma dica para todo político: você tem 7/8 da população que não adotou um político para seguir. É muita gente. Se você costuma olhar pela minoria, este 1/8 que segue o político, tente olhar pelo outro lado: Você tem 7/8 para conquistar. É só ser competente em conversar com o eleitor do jeito certo, conhecendo o ambiente que você está”, aconselha.

 

Diga quem tu segues…

Outro ponto de destaque nos números é a quantidade de evangélicos que seguem os parlamentares: em São Paulo são 17,2%, o maior número entre as doutrinas. “A religião tem uma influência direta sobre uma parcela do eleitorado. Isso acontece porque toda religião é feita de dogmas. Então você tem certezas e certezas não são polêmicas. As pessoas se sentem confortáveis quando são orientadas e falam para elas que isso é pecado, isso aqui está tudo bem. A religião tem uma questão dogmática forte e consegue ter uma condução maior no eleitorado do que quem não tem religião. Por isso o crescimento da bancada evangélica no Congresso, porque tem unidade”, analisa Vitorino.

Isso não acontece, no entanto, com a contadora Deise Pereira Gonçalves Miguel, 57 anos. Ela é evangélica, mas não é pela indicação religiosa que escolhe seus votos. “Mas eu acho que a religião influencia muitas pessoas. Não é o meu caso. Eles seguem porque dizem: ‘esse cara (candidato) é o homem de Deus’. É como se fosse um gueto que você tem de proteger”, acredita. Ela diz que na última eleição votou na deputada federal Tabata Amaral (PDT) e que, independentemente de ter feito algumas coisas que ela não concorda, não se arrepende da escolha e tem acompanhado sua atuação nas redes. “Ela tem a idade da minha filha, é muito inteligente, tem feito um trabalho satisfatório.”

E Tabata nem figura na lista dos parlamentares mais influentes de São Paulo. No topo está a deputada federal de São Paulo, Carla Zambelli (PSL), seguida de Eduardo Bolsonaro e Joice Hasselmann, ambos do mesmo partido. Também estão na lista Kim Kataguiri (DEM) e o pastor Marco Feliciano (Republicanos).