Pesquisa do Instituto Informa aponta que três a cada quatro brasileiros avaliam positivamente seu bem-estar; saúde, família e finanças motivam respostas

Corpo e mente saudáveis, boas relações familiares e finanças sob controle. A receita perfeita para a felicidade, não fossem os humanos tão complexos. “O bem-estar parte de uma perspectiva interpretativa. O que é bom para mim, pode não ser bom para você. Cada pessoa tem seus interesses, sua visão de mundo e, com isso, sua percepção de bem-estar”, avalia o sociólogo Fábio Gomes, fundador da Bateiah Estratégia e Reputação.

 

No Brasil, três a cada quatro brasileiros avaliam positivamente seu bem-estar. O dado é de uma pesquisa do Instituto Informa, que entrevistou mil pessoas de diferentes regiões do País no início de março para mensurar o senso de satisfação com a própria vida.

De acordo com o levantamento, em uma escala de 1 a 10, 75,7% dos participantes atribuem notas altas à sua percepção de bem-estar – de 7 a 10. Outros 20,1% julgam o bem-estar como moderado, com notas de 4 a 6, e 4,2% o consideram ruim, com notas entre 1 e 3. Regiões como Sudeste (80,2%) e Sul (79,1%) tiveram maiores proporções de avaliação positiva, seguido por Centro-Oeste (75,7%), Norte (69,7%) e Nordeste (68,3%). A nota média nacional ficou em 7,6.

Concepção

A psicóloga Marília Mesquita Resende, 2ª secretária da atual gestão da SBP (Sociedade Brasileira de Psicologia), aponta duas grandes concepções de seu campo para o bem-estar. “A primeira é a hedônica, que percebe o bem-estar como forma de felicidade, de busca pelo prazer. O bem-estar é visto como uma satisfação geral com a vida, um balanço emocional entre aspectos positivos e negativos que partem do subjetivo, da experiência de cada pessoa.”

Outra abordagem possível na psicologia é a do bem-estar eudaimônico, ou psicológico. “É uma visão que vai além do prazer, que busca um sentimento de realização. E esse bem-estar é explicado em seis dimensões: autoaceitação, relacionamentos positivos, autonomia, domínio de ambientes, propósito de vida e crescimento pessoal.”

Renda e estudos influenciam

O levantamento do Instituto Informa evidencia a influência da condição financeira na compreensão do bem-estar, com a classificação positiva chegando a 96% entre os entrevistados de classe A e caindo gradativamente até chegar a 63,9% entre os de classe D e E. O mesmo pode ser dito sobre a escolaridade: enquanto 84,7% das pessoas com ensino Superior completo dão notas altas ao próprio bem-estar, o percentual positivo entre analfabetos e pessoas com Fundamental 1 incompleto despenca para 53,2%.

Ainda assim, ao serem perguntados sobre o principal aspecto para a avaliação positiva do bem-estar, as finanças (17,8%) ficam atrás da relação familiar (26,6%) e da saúde do corpo (23,8%) e da mente (17,9%). O mesmo acontece entre os que atribuíram notas baixas – 14,6% escolheram as finanças, contra 19,5% a família, 31,7% a saúde do corpo e 24,4%, da mente. Com 31,3% das respostas, as finanças se destacam como principal justificativa apenas entre os que deram notas moderadas.

“Assim como na pesquisa, outros estudos mostram que, em países mais ricos, as pessoas experienciam maior bem-estar. Isso significa que dinheiro atrai felicidade? Bom, eles estão positivamente associados – uma pessoa com dinheiro suficiente para suas necessidades será mais feliz. A pobreza é ruim e não pode ser romantizada, já que impacta o bem-estar das pessoas. Essa relação, porém, entra em um platô a partir do momento em que a pessoa tem um mínimo para sobreviver. Ou seja, o dinheiro deixa de fazer tanta diferença”, diz Marília.

Reputação e bem-estar

O estudo também abordou a relação entre bem-estar e consumo. Ao serem perguntados sobre o segmento da economia de uma marca que mais promove bem estar, 43,7% dos entrevistados citaram Alimentos. Em segundo lugar, aparecem Séries e Filmes, com 8,1% e, em terceiro, Vestuário, com 5,6%.

“A alimentação está muito relacionada com o emocional. Vem do carinho pela alimentação que as mães oferecem aos seus bebês, por exemplo”, afirma a líder de pesquisa do Instituto Informa, Cristina Ratnieks. “E, na vida adulta, segue como uma recompensa, uma gratificação, como comer uma pizza após um dia intenso de trabalho.”

Fábio Gomes defende que o pilar central da reputação sobre uma marca está na promoção do bem-estar. “Eu reputo bem aquilo ou quem promove em mim bem-estar. Em um primeiro momento, a reputação se forma sem dogmas, a partir de contextos sociais e interações – ou seja, o que apreendemos e as ideias que trocamos com outras pessoas configuram como alguma coisa deve ser. Em um segundo momento, usamos esses padrões constituídos para julgar determinadas questões e compartilhamos com outras pessoas… E assim surge a reputação.”

O líder de ciência de dados do Instituto Informa, Fabio Vasconcelos, também ressalta em artigo a importância da construção de bem-estar para o prestígio das marcas. “O ponto principal [da pesquisa] é observar que os brasileiros percebem positivamente o próprio bem-estar, e essa é uma chave que reforça a nossa hipótese, segunda a qual a noção de bem-estar é central para a compreensão dos públicos com os quais lideranças, instituições e marcas precisam lidar e de quem dependem para construir reputação.” 

 

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