Diante das celeumas produzidas por imprecisões, reações públicas e de políticos colocam em curso a demonização das pesquisas eleitorais. Método que já se mostrou eficaz em muitas oportunidades. Algumas hipóteses são lançadas para explicar as diferenças, em alguns casos superlativas, entre projeções eleitorais e resultados das urnas. Dentre as defesas, algumas estapafúrdias, encontramos argumentos para montagem de cenários sobre o que ocorreu e o que deve ser feito para que as próximas pesquisas sejam mais precisas. Um dos cenários imagináveis, por exemplo, é a possibilidade de um fenômeno comportamental acerca dos respondentes de pesquisa. Nesse caso, as acusações contra as empresas de pesquisa podem ser transformadas em demandas por métodos que contemple esses efeitos. Por outro lado, algumas empresas foram mais precisas que outras. Será que elas têm algo a ensinar sobre metodologia? Em última instância, para essas eleições, são os possíveis precisos no segundo turno que podem corrigir a reputação sobre as empresas de pesquisa midiáticas.

O ambiente de desconfiança não se desfaz apenas com as explicações técnicas – mas com fatos que sejam índice de confiança e transparência. A performance no segundo turno é uma delas. A mudança das regras para divulgação de pesquisas eleitorais, impondo mais rigor e transparência, é outro fato potente. Trata-se de produção de fatos que se apresentem para distensionar a relação dos eleitores e políticos com as informações publicizadas. Dentre muitas contribuições possíveis para esse campo, trago três propostas capazes de promover transparência e, portanto, menor desconfiança sobre as pesquisas publicadas.

PROPOSTA 1

O TSE carece de um corpo técnico de pesquisadores, estatísticos e cientistas sociais, para criar padrões e auditar empresas e pesquisas registradas. Em algumas eleições, o TSE convidou representantes de empresas de pesquisa para colaborar com resoluções, mas não deu muito certo – o interesse de confrarias de pesquisas foi protagonista no texto final. O corpo técnico próprio, que atenda o interesse público, se apresenta necessário na cena em que o crescimento de empresas que publicam pesquisas eleitorais é notório.

PROPOSTAS 2

O TSE precisa estabelecer critérios para indicar empresas permissionárias na publicização de pesquisas eleitorais. O critério atual é muito frouxo. Nos moldes de concessões públicas, o TSE deve criar maior rigor para as empresas que oferecerão esses serviços nas próximas eleições.

PROPOSTAS 3

Pesquisas eleitorais foram concebidas nos moldes das pesquisas sociais. Os critérios científicos devem reger o planejamento, documentação e execução dessas sondagens. No campo científico, o registro do material de uma pesquisa, o corpus, é tão importante quanto as planilhas que revelam seus resultados. O aparato tecnológico que envolve a execução das pesquisas permite a organização do corpus de forma mais sofisticada do que a simples informação de execução. Uma vez que o TSE tenha um corpo técnico de auditores de pesquisa, as empresas deveriam depositar o banco de dados e os áudios das entrevistas da pesquisa – ferramentas muito comuns no segmento de pesquisa hoje em dia.

Com elementos que possam garantir as informações publicizadas, sobretudo com auditorias internas, as desconfianças diminuirão. Que isso não se confunda com as recentes desconfianças acerca de nosso sistema eleitoral – que encontrou caminhos para certificar sua execução. No modelo atual de publicização de projeções eleitorais, até para quem acredita nos métodos de pesquisa, é inevitável alguma desconfiança.

 

Fábio Gomes
Sociólogo
Mestre em Administração
Doutor em Comunicação