O isolamento social imposto pela pandemia da covid-19 teve impacto direto no bem-estar dos paulistanos como aumento no número de pessoas que relatam dores de cabeça e estresse. A  operadora de telemarketing Karina Ferreira, 32, viu as crises de dores de cabeça se intensificarem neste período de pandemia. “Antes da pandemia, eu já costumava ter fortes dores, mas desde que começou o isolamento social, elas ficaram mais fortes e mais frequentes”, diz Karina. Ela afirma que o trabalho remoto e a falta de contato com amigos e familiares, além dos que moram na sua casa, têm causado muita apreensão. “Antes, tinha o contato diário com os colegas de trabalho. Nas folgas, encontrava os amigos. Agora, estou o tempo todo dentro de casa sem contato presencial com as pessoas. É muito difícil e me causa ansiedade, estresse e isso se reflete em muitas dores de cabeça”.
Karina não está sozinha. Levantamento do Instituto Informa, unidade de negócio da Bateiah Estratégia e Reputação, realizado em dezembro de 2020,  revela que 39,6% dos entrevistados do Estado de São Paulo relataram dores de cabeça ou no corpo. Considerando apenas a Capital, esse percentual sobe para 44,4% e no interior e baixada paulista o indicador é de 37,5%.

Mal-estar e dores
As dores de cabeças são mais comuns em pacientes que estão em isolamento social e isolamento físico em suas respectivas residências. A falta de interação com as pessoas, a falta de liberdade, a falta de tudo que era feito antes gera um grande estresse, uma maior preocupação o que faz as pessoas pensarem demais nos problemas, nos afazeres domésticos e nos problemas que ficam fora da sua residência. Claro que esse estresse e preocupação levam a um quadro de dor de cabeça”, diz o neurologista e neurocirurgião Wanderley Cerqueira, que atende nos hospitais da Rede D`Or e no Albert Einstein.
“Eventualmente as dores de cabeça são reações tenso vasculares de contratura da musculatura da região cervical e as técnicas de relaxamento e exercícios físicos dentro de casa mesmo vão ajudar bastante o paciente a aliviar essa tensão e consequentemente as dores”, diz. “Mas é bom enfatizar que se houver uma dor constante e diferente da habitual, acompanhada de náuseas, vômitos, tontura ou até mesmo perda de consciência, é necessário que se procure um pronto atendimento e não espere a dor aumente”, aconselha o neurocirurgião. E destaca que se a pessoa tem alguma comorbidade, como pressão alta ou algum problema cardíaco, problema metabólico, isso vai contribuir para o aumento das dores de cabeça e o ideal, neste caso, é sempre monitorar e ficar atento.

Estresse
A saúde mental também merece atenção especial neste período de pandemia. “Os casos de sintomas psicológicos e psicossomáticos aumentaram devido ao medo do adoecimento, isolamento e distanciamento social, mudança de rotina com home office, agravamento nas dificuldades de relacionamento, preocupação com o trabalho, questões econômicas dentre outras”, diz o psicólogo  Roberto Debski. A previsão, diz o psicólogo, é que a próxima onda, após a redução dos casos de covid-19, será do agravamento das doenças psicológicas, estresse, síndrome de burnout, ansiedade e depressão como consequências de todos esses problemas.
De acordo com o estudo do Instituto Informa, 6,6% dos paulistanos relataram ansiedade neste período de pandemia, 1% disse ter tido depressão e 0,6%, desânimo. “É importante planejar e seguir os horários de trabalho, de descanso, alimentação, lazer, atividade esportiva, para que sinta que há uma ordem no seu dia, mesmo com as dificuldades impostas pela pandemia, nos deslocamentos, trabalho e relacionamentos, e modificação da rotina que pode ser extrema e estressante para muitas pessoas”, diz Debski. “Aprender sobre seus limites e possibilidades, mudar hábitos para mais saudáveis, cuidar dos relacionamentos, consigo e com os outros, e procurar ajuda médica e psicológica sempre que necessário”, complementa o psicólogo.

Na pressão
Vale destacar que é esperado sentirmo-nos mal quando nos são apresentados tantos desafios, mudanças de rotina e dificuldades diversas, porém com a capacidade de adaptação que todos temos, é possível superar estes sintomas e aprender a viver um “novo normal”. Quando percebemos que os sintomas não melhoram, se agravam, ou trazem limitação, devemos buscar ajuda profissional para termos um diagnóstico e tratamento adequados.
Outro dado que chama atenção no estudo do Informa é que  22,4% dos entrevistados no Estado de São Paulo relataram cansaço, fraqueza ou fadiga. Na Capital, este percentual é de 15,6% e no interior e baixada paulista, 17,9%. Resfriado acometeu 3,1% dos entrevistados do Estado – na Capital, 0,7% e no interior e baixada paulista, 5,1%.
“Devemos manter uma rotina diária, flexível, com atividades para a manhã, tarde e noite, leituras, estudo, atividade física, boa alimentação, lazer, mesmo que em casa, relacionamentos presencial ou virtual, com tempo para descanso, e um bom sono, conversar, planejar para o tempo em que tudo tiver acabado, manter o foco no positivo e claro, cuidar da saúde e seguir todas orientações das entidades médicas para evitar adoecer”, finaliza Roberto Debski.