Prefeitura de Guarulhos está realizando a maior obra de combate a enchente da história da cidade

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Obras foram iniciadas no primeiro semestre de 2022 e contam com ampliação da calha do rio e implantação de um parque linear.

Segunda cidade mais populosa do Estado de São Paulo, Guarulhos está colocando em prática um programa que promete melhorar a qualidade de vida dos cerca de 300 mil moradores dos bairros que ficam no entorno do rio Baquirivu- Guaçu.

Com o nome oficial de Viva Baquirivu, o programa da prefeitura de Macrodrenagem e Controle de Cheias do rio deve diminuir em até 80% enchentes e alagamentos nestes locais por meio da ampliação da calha do Baquirivu, da construção de cinco reservatórios e da recuperação de áreas de várzea. O programa também prevê a implantação de um parque linear, que será o maior da cidade.

Transbordamento

Afonso Castro, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade Presbiteriana Mackenzie, e Renato Eliseu Costa, professor de Gestão Pública e Ciência Política da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), explicam que a região sofre com enchentes por causa do seu modelo de urbanização que mistura um processo de ocupação irregular de áreas e a criação das chamadas “avenidas de fundo de vale”.

“Nesse modelo, avenidas são construídas exatamente ao longo do curso da água, ocupando áreas naturais de inundação, porque os rios têm um regime de cheia que é natural, que está relacionado com o regime de chuva. Quando o volume de chuva é superior à capacidade do rio ele transborda. O problema é que, com a pavimentação do solo e as construções dos bairros, a água que transborda não encontra mais o terreno permeável que deveria estar ali”, diz Castro.

Correção

Neste cenário, as obras do Viva Baquirivu permitirão uma correção nas estruturas do rio e um resgate das áreas permeáveis que darão segurança para a população dos bairros criados ao longo do leito.

Renato Eliseu Costa, que já morou naquele entorno, lembra que é uma área que tem problemas recorrentes com enchentes. “Posso assegurar a importância desse tipo de iniciativa”, diz. O professor completa dizendo que a iniciativa da implantação do parque também é importante porque leva uma área de lazer para a região.

Obras

As obras do programa contemplam 14,5 km do rio e foram iniciadas no primeiro semestre de 2022, dividindo a extensão do Baquirivu em três lotes. Segundo a Secretaria de Obras da Prefeitura de Guarulhos, no lote 1, que compreende os bairros Taboão e Vila das Malvinas, 15,8% do rio já foi canalizado; já no lote 2, que passa pelos bairros Cidade Seródio, Jardim Novo Portugal e Lavras, 7% já foi canalizado; e no lote 3, em que estão os bairros de Bonsucesso e Vila Sadokim, 25,3% do rio já foi beneficiado pelas obras.

“Além disso, o programa inclui melhorias em vias próximas ao Baquirivu. Até o momento, foram concluídas as obras nas ruas Odilon Monteiro, Cristóbal Claudio Elillo, Muritiba e Tamotsu Iwasse e nas avenidas Paquistão, Papa João Paulo I, Armando Bei e José Brumatti”, afirmou a secretaria em nota.

No dia 29 de novembro, a prefeitura fez a entrega oficial de mais um trecho, a canalização do córrego Cocho Velho. Ele é um importante afluente do rio Baquirivu e fica localizado entre os bairros Presidente Dutra e Cumbica. O córrego teve sua calha aumentada de oito para 25 metros e foram realizadas a concretagem dos taludes e paisagismo nas margens.

Neste momento, também estão em andamento as canalizações da travessia na avenida Lauro de Gusmão e da travessia do córrego Guaraçau.

Já a construção do parque linear ainda não começou, mas de acordo com o projeto ele terá 70 mil m², e contará com arborização, passeio, ciclovia, quadras poliesportivas, pistas de skate, entre outras estruturas.

Financiamento

O Viva Baquirivu só saiu do papel graças a um aporte financeiro de US$ 96 milhões, aproximadamente R$ 480 milhões, obtido pela prefeitura de Guarulhos junto ao Banco de Desenvolvimento da América Latina, CAF.

A evolução das obras tem sido acompanhada de perto e regularmente por integrantes da Corporação Andina de Fomento.

Para o professor Renato Eliseu Costa, financiamentos e parcerias com o governo estadual são de extrema importância. “Esse tipo de política pública de infraestrutura acabam tendo um valor muito elevado e mesmo prefeituras de cidades grandes como Guarulhos não conseguem fazer sozinhas. Então, essa parceria entre governo municipal, estadual e organizações internacionais é fundamental para viabilizar essas obras”.

A expectativa é de que, apesar das obras ainda estarem em andamento, os trechos que já foram entregues auxiliem na redução de casos de alagamentos já neste verão.

Canalização sem tamponamento

Outro aspecto positivo apontado pelos especialistas é a opção por deixar o rio sem tamponamento, ou seja, de uma forma que seja possível ver o curso da água.

“Indiscutivelmente é algo muito positivo porque permite o acompanhamento, o controle do grau de poluição e de assoreamento do rio. Além disso, contribui para resgatar um convívio da população com as águas, com o rio como um item daquela paisagem. Atualmente, muitas cidades do mundo têm feito esse processo de destamponar seus rios”, explica o professor Afonso Castro.

Mas ele pondera que é necessário também a adoção de medidas não estruturais, como a conscientização da população, para auxiliar na melhora da qualidade da água que chega ao rio e aos reservatórios para reduzir a necessidade de manutenções e limpeza.

 

 

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