Paulista afrouxa cuidados em meio a segunda onda de casos de Covid-19

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ima_12.02.2021

No fim de fevereiro de 2020, o Brasil confirmou seu primeiro caso de covid-19 – um paulistano de 61 anos, que havia feito uma viagem à Itália durante o mês. A apreensão pelo avanço da pandemia motivou grandes mudanças de comportamento, principalmente em relação à higiene. Naquelas semanas, itens como álcool líquido ou em gel e papel higiênico ou sumiram das prateleiras, ou eram vendidos a preços abusivos.

Quase um ano depois, assim como o Brasil e o mundo foram ajustando (e desajustando) as necessidades e possibilidades do isolamento e fazendo concessões, o paulista também baixou a guarda para evitar a doença. Uma pesquisa do Instituto Informa, unidade de pesquisa mercadológica do Bateiah.com, mostra a redução de algumas das práticas recomendadas por infectologistas. Foram entrevistados 562 moradores do estado de São Paulo entre os dias 16 e 20 de dezembro de 2020. A margem de erro é de 4 pontos percentuais e o nível de confiança do levantamento é de 95%.

A higienização de compras foi o hábito que mais perdeu adeptos entre os paulistas: apesar de 61,4% afirmarem manter o cuidado, 16,8% admitem ter reduzido sua frequência e 12,1% revelam ter parado por completo. Outros 9,6% nunca fizeram.
O levantamento aponta ainda que a adesão é maior entre mulheres e pessoas com mais de 40 anos de idade e menos frequente àqueles com maior renda (acima de dez salários mínimos) e os que se declaram evangélicos tradicionais. Os que disseram nunca ter higienizado as compras são mais numerosos entre os mais jovens, de 16 a 29 anos, ou entre pessoas com renda familiar entre dois e cinco salários mínimos.

O assessor financeiro Thomaz*, de 34 anos, é um dos que reduziu bastante a atividade pelo tempo e trabalho demandados. “No começo a gente entrou naquela paranóia de todo mundo. Depois de alguns meses, fomos relaxando. Seguimos descartando pacotes antes de entrar com compras em casa e confiamos mais na higienização de embalagens pelos restaurantes e lojas”, diz. Por outro lado, ele ainda reconhece a limpeza das compras como algo importante e pediu anonimato na reportagem pelo receio de ser “cancelado” por outras pessoas.
E até que ponto esse julgamento é justo? Segundo o psicólogo Rafael Sarmiento, da Cuidar Terapia, diferentes rotinas influenciam nas práticas de prevenção. “Pode ser muito mais fácil para uma pessoa manter os cuidados quando ela está em home office, já que não precisa se preocupar tanto quanto alguém que enfrenta o transporte público todos os dias. Limpar as compras do mês é um trabalho grande e cansativo.”

O infectologista Renato Kfouri, presidente do Departamento de imunizações da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), entende que a higienização de compras não é essencial. “Essa é uma medida muito propagada, mas que nunca demonstrou eficácia na prevenção da transmissão, que se dá por via respiratória ou ao tocar em superfícies contaminadas e depois no próprio rosto. A redução desse comportamento reflete o que aprendemos sobre a doença nesse tempo e a veiculação de informações equivocadas, que se fez muito no começo.”

A SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), em relatório divulgado em dezembro, reforçou a necessidade de seguir seis “regras de ouro”: uso de máscara; distanciamento físico de 1,5 metro; higienização frequente das mãos com água e sabão ou álcool gel a 70%; evitar aglomerações, como reuniões e festas de confraternização; manter ambientes ventilados e arejados; e isolar pessoas com sintomas de resfriado ou gripe.

Lave as mãos, sim
Um ponto preocupante apresentado pela pesquisa do Instituto Informa é que menos pessoas estão higienizando as mãos corretamente após o contato com maçanetas. O hábito deixou de ser constante para 16,4% dos entrevistados. Outros 15,8% ou deixaram de fazê-lo por completo ou nem chegaram a praticá-lo.

O agravante, explica Sarmiento, é que comportamentos relativos à prevenção raramente têm consequências visíveis de forma imediata. “Uma pessoa deixa de higienizar sua mão após o contato com algo, mas as consequências não acontecem na hora. Caso tenha sido contaminada, os sintomas virão apenas dias depois. Por essa razão, quando ela deixa de higienizar as mãos e não sente nada de forma imediata, a chance de voltar a ter o mesmo cuidado reduz significativamente. Afinal, o medo supostamente não se concretizou.”

Para Kfouri, o dado é importante. “É uma pena que isso esteja caindo. A limpeza é essencial não apenas após tocar em maçanetas, mas em qualquer lugar. E, tão importante quanto higienizar as mãos frequentemente com água e sabão ou álcool gel, é ter o cuidado de não levá-las ao rosto.”

Álcool gel segue em alta
A pesquisa mostra que o paulista segue usando álcool gel nas mãos com frequência (84,4%). Mas 13,1% dos entrevistados reduziram o uso e 2,4% admitiram não usar mais.

A limpeza das mãos com álcool se dá muito por manter consigo um frasco no bolso ou bolsa. O levantamento diz que 84,3% dos paulistas estão sempre munidos do álcool gel, enquanto 6,7% passaram a carregar menos, 5,5% deixaram de levar e 3,5% nunca tiveram esse costume.

A confeiteira Marcia Udiloff, de 55 anos, segue indo além das “regras de ouro”, sempre higienizando as mãos, lavando todas as compras e tendo no álcool gel uma companhia constante. “A higienização é primordial na minha área. Na pandemia, essa atuação se potencializou e, hoje, sinto que até exagero um pouco”. Sem nenhum caso de covid-19 na família, ela afirma que pretende continuar as práticas mesmo quando a doença for superada.

Sarmiento acredita que a manutenção dos comportamentos é favorecida pela ação de cada indivíduo como um bom exemplo. “No momento em que as pessoas incentivam essas práticas e criam condições para que elas aconteçam ao seu redor, as chances dessas atitudes serem mantidas e até aderidas por outros aumentam.”

*Nome fictício para garantir o anonimato.

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