Se para cada pessoa a pandemia de covid-19 deixou marcas diferentes, para o assistente de CRM (Gestão de Relacionamento com o Cliente) Eduardo Simões, de 23 anos, o período ficou marcado por um abalo emocional. “Fui diagnosticado com depressão no fim do ano retrasado, mas já era algo muito evidente desde o período de isolamento.” A mudança brusca das aulas presenciais para o ensino à distância, logo no início de seu curso superior de administração, também desanimaram o jovem. “Eu recentemente concluí minha graduação, que empurrei com a barriga por dois anos para não sair no meio. Agora, a busca por emprego na área é algo desgastante.”
Simões se diz insatisfeito com seu bem-estar, avaliação que, segundo pesquisa do Instituto Informa, é compartilhada por um a cada três jovens. O estudo aponta que 32,1% dos entrevistados entre 18 e 24 anos consideram seu bem-estar moderado (notas de 4 a 6) ou ruim (de 1 a 3). Já a classificação positiva (entre 7 e 10) fica em 67,9%.
Considerando todo o levantamento, que abordou mil brasileiros no início de março, a autoanálise moderada ou ruim cai para 24,3% – ou cerca de uma a cada quatro pessoas –, enquanto a boa chega a 75,7%. O dado é mais alarmante no recorte de entrevistados de 18 e 19 anos: 51,1% deles atribuem notas de 1 a 6 para o próprio bem-estar e 48,9% dão notas de 7 a 10.
Para a psicóloga Evelyn Schiavo, que reúne mais de 65 mil seguidores nas redes sociais com conteúdos voltados ao público jovem, o mundo conectado traz uma sobrecarga a uma faixa etária que ainda está acumulando bagagem de vida. “As redes sociais provocam muita autocobrança, uma comparação de ver e almejar no outro aquilo que ainda não está maduro para si”, explica. “Nessa idade, a imposição interna e da sociedade são tão grandes que a pessoa quer sair como um trator, fazendo tudo o que acha que pode conseguir, até descobrir que as coisas não são tão simples assim.”
O que motiva um bom (ou ruim) bem-estar?
Perguntados sobre o aspecto da vida que melhor explica a avaliação de seu bem-estar, um a cada quatro jovens de 18 a 24 anos citaram a saúde mental (25,2%), seguido por saúde (21,4%), finanças (19,5%), relações familiares (19,5%) e condições da casa (6,3%). “É possível relacionar essas questões a um equilíbrio de quatro quadrantes: o físico, o mental, o emocional e o espiritual. Há quem cuide muito do físico, mas não do emocional. Ou quem trabalha o mental, mas não o espiritual. Esse equilíbrio demanda uma leveza em olhar para o que foi difícil, respirar e entender o que é possível”, diz a psicóloga.
Tendo na pandemia um divisor de águas, Evelyn destaca um maior interesse dessa faixa-etária pelos cuidados com a saúde mental. “Há uma procura pelo autoconhecimento, com uma vontade de ressignificar questões difíceis, traumas ou dificuldades familiares que afetam a qualidade de vida. Aquele preconceito de que psicologia é ‘para gente rica’, ou ‘para gente louca’, felizmente foi superado e cada vez mais vejo pessoas buscando por novos caminhos para melhorar a autoestima.”
Buscando um equilíbrio, Simões enxerga no esporte uma motivação para seguir adiante. “O ciclismo ajuda no meu bem-estar. Passo o tempo livre andando de bicicleta ou vendo vídeos de atletas internacionais. No Brasil, é um esporte distante, por falta de incentivo e custos altos. Mesmo assim, hoje entendo que a frustração pode nos deixar para baixo, mas também nos fortalece!”
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