Transformar o limão em uma limonada. Foi assim que empregados e empregadores enfrentaram o impacto da pandemia do covid-19. O ano passado começou com a expectativa de que seria um ano de crescimento econômico. Inflação controlada, menor taxa básica de juros da história e as reformas criavam o cenário perfeito para que depois do Carnaval o país desse a largada para a expansão econômica. Mas veio a pandemia e a palavra de ordem virou sobreviver. E empresas e trabalhadores, que se preparavam para um ano positivo, tiveram que se reinventar.
Pesquisa realizada pelo Instituto Informa, unidade de negócio da Bateiah Estratégia e Reputação, em dezembro de 2020 mostra que, apesar de parte das pessoas continuarem saindo para trabalhar (22,4% no Rio de Janeiro e 20,8 em São Paulo), o número de trabalhadores que paralisaram suas atividades ou passaram a atuar em home office também teve uma participação expressiva no levantamento com 18% no Rio de Janeiro e 12,8% em São Paulo.
O fato é que o mercado de trabalho não será mais o mesmo. Essa é a leitura dos trabalhadores e empregadores ao avaliarem o impacto das restrições causadas pela pandemia da covid-19. “Com a pandemia, muitos negócios e profissões tiveram de se reinventar. Para a maioria, isto significou aprender a trabalhar remotamente ou, ainda, minimizar as interações pessoais ao mínimo. Para os trabalhadores, 2020 representou um ano em que foram forçados a se adaptar ao trabalho remoto, ao uso mais intensivo de tecnologia, bem como uma grande parte se viu forçado a aprender novas competências, sobretudo digitais, para não serem expurgados do mercado”, avalia Emanuel Pessoa o especialista em política econômica.
Mercado e trabalhadores em adaptação
Claudio Brito, CEO da Global Mentoring Group, grupo focado na alta performance de mentores e profissionais de diferentes níveis, também considera que tanto colaboradores quanto empresas tiveram que se reinventar neste período e muitas devem adotar o novo formato. “O home office já era uma tendência em alguns setores, como de TI, e foi agilizado com a pandemia. Acredito que em muitas companhias veio para ficar.”
Reuniões virtuais, barulho, falta de infraestrutura para o trabalho, crianças e tantos outros empecilhos foram algumas das dificuldades encontradas pelos profissionais que começaram a trabalhar em casa. Por outro lado, esses trabalhadores não precisam enfrentar horas no trânsito ou se apertar no transporte público lotado, o que reduz o risco de se contaminar.
A advogada Gislaine Santos, 42, deixou de ir para o escritório bem no início do isolamento social, ainda em março. “Conciliar as aulas da minha filha de 5 anos, dar atenção a ela, cuidar da casa e ainda cumprir prazos, atender clientes e participar de reuniões e audiências não foi nada fácil”, diz a advogada. Em novembro, com a redução no número de casos, ela voltou para o escritório por achar que lá o seu trabalho renderia mais. “Mas durou pouco tempo. Duas semanas depois resolvi voltar para o home office, porque já havia uma previsão de aumento de casos e não poderia arriscar, já que minha mãe é idosa e minha filha asmática”, conta a advogada,
Uma nova realidade
Mas nem todos tiveram a possibilidade de trabalhar em casa e a principal preocupação para quem precisa sair diariamente é de se contaminar ou levar o vírus para casa. Trabalhando em uma loja de material de construção, que foi definida pelo governo como serviço essencial e, portanto, podia abrir mesmo durante o período mais severo do distanciamento social, a atendente Gisele Melo, 33, fala sobre o medo em sair de casa e o contato com o público. Máscara e álcool gel se tornaram itens essenciais para a profissional, que destaca que ao chegar em casa deixa sapato na porta e já passa direto para o banho. “Tento seguir todos os protocolos de segurança indicados pelos médicos. Felizmente, nem eu nem ninguém da minha família fomos atingidos pelo vírus, mas tiveram vários amigos e conhecidos que passaram por momentos bastante críticos e isso aumenta a minha preocupação e cuidados”, diz Gisele. “Bate muita insegurança, mas felizmente estou empregada”, diz Gisele.
Com mais de 14 milhões de brasileiros desempregados, além de ter que enfrentar a pandemia, muitos profissionais ainda precisam passar pelo drama de não ter uma ocupação. O estudo da Instituto Informa mostra que 12,3% dos fluminenses entrevistados e 11,6% dos paulistas ficaram desempregados após as restrições provocadas pelo covid-19. Além disso, 2,4% dos pesquisados no Rio de Janeiro e 0,6% em São Paulo disseram que fecharam seus negócios e procuram por emprego. Além disso, 0,7% dos entrevistados do Rio de Janeiro e 0,4% de São Paulo fecharam seus negócios e estão parados.
Daiany Scheer, 38, viu o sonho da sua loja própria desmoronar com as restrições impostas pela covid-19 e se reinventou, assim como 2,8% dos fluminenses e 2,1% dos paulistanos que responderam a pesquisa do Instituto Instituto Informa. “Em 2018, montei a Chá de Lingerie. Os negócios estavam indo muito bem e em 2019 comecei a estruturar para abrir franquia, mas veio a pandemia e os meus planos foram frustrados”, diz Daiany. “Tive que fechar a loja porque os custos ficaram muito caros e adequei a minha casa para o negócio.”
Em maio, ela teve covid e o medo de que a família também fosse atingida preocupou a empreendedora. “Com o tempo percebi que o melhor que tinha a fazer era seguir os protocolos e me readequar à nova realidade. Tenho feito isso e evito ficar sofrendo pelo que pode acontecer”, finaliza Daiany.