Paulistanos equilibram distanciamento social e necessidade de sair para trabalhar

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ima_22.04.2021

Um ano depois do início das medidas restritivas em São Paulo, o Instituto Informa, unidade de negócio da Bateiah Estratégia e Reputação, em março deste ano, realizou uma pesquisa que mostra o comportamento dos paulistanos em relação à pandemia da covid-19 e revela uma grande diferença entre as pessoas que moram em bairros considerados de alta renda com os que estão localizados em regiões de baixa renda.

De acordo com o levantamento, em São Paulo, moradores de bairros de renda alta são os que mais concordam com as restrições sobre festas e eventos. Também são as pessoas de alta renda que mais conseguem ficar em casa e trabalhar, no comparativo com as pessoas de renda baixa.

“Geralmente as pessoas com maior poder aquisitivo exercem funções de liderança, que as permitem um trabalho remoto e as favorecem em um isolamento social mais rigoroso. E normalmente ainda contam com uma reserva financeira para períodos de emergência. O que não ocorre nas classes mais baixas da sociedade, que em geral ocupam postos de trabalho que demandam a presença física, impossibilitando o isolamento. Além do fator financeiro, no qual a falta de reservas os impede de paralisar suas atividades em momentos de crise sanitária como esse que estamos atravessando”, avalia o economista Caio Mastrodomenico, CEO da Vallus Capital.

 

Realidades diferentes

Segundo a pesquisa, 53,9% das pessoas que moram em bairros de alta renda (Jardins, Jardim Paulista, Vila Nova Conceição, Higienópolis, Lapa e Perdizes) não precisaram sair de casa por força de obrigações do trabalho. Quando são avaliados moradores de bairros como a Sapopemba, Vila Matilde, Cidade Tiradentes, Itaquera esse percentual cai para 44,7%. Vale destacar ainda que o desemprego afeta de maneira mais frequente os moradores dos bairros considerados de baixa renda, com 17,5% que dizem estar sem trabalho contra 12,7% das pessoas que residem nas regiões de alta renda na Capital paulista.

Fenômeno semelhante é observado no Rio de Janeiro, com 45,1% dos fluminenses que moram em bairros mais abastados (Leblon, Ipanema, Lagoa, Jardim Botânico e Gávea) declarando que não precisaram sair para trabalhar contra 43,4% das pessoas que moram em bairros como Zona Oeste – Bangu, Realengo e Santa Cruz Campo Grande.

Motorista de aplicativo, Jean Gomes, 25, está entre a parcela da população que precisou sair de casa para trabalhar. “Cheguei a ficar em casa alguns dias no início da pandemia, mas tudo isso foi demorando demais e tive que voltar ao trabalho, mas não é uma decisão fácil: ou a gente se arrisca na rua ou fica em casa passando necessidades.”

Impacto psicológico

Apesar de ser a arma mais usada por diversos países para tentar frear a transmissão da covid-19, as restrições de circulação trazem consigo uma série de consequências e o desemprego e a depressão estão no topo da lista. Tanto que a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) fez um alerta, no ano passado, para os cuidados de saúde mental durante a pandemia e o Senado brasileiro chegou a aprovar um projeto que determina a oferta de atendimento psicológico, na rede pública, para pacientes que tenham desenvolvido transtornos mentais ou agravado quadros pré-existentes durante a pandemia de covid.

A psicóloga Bianca Panvequi Liberati explica que são vários os impactos que as pessoas estão vivendo pela pandemia. “Há o luto propriamente pela morte, e, em muitos casos, sem poder cumprir os rituais de despedida. Há um luto de ver tudo fechado, o que dá uma sensação de vazio pode ser um gatilho para quem já tem pré-disposição à ansiedade e depressão. E também o luto das pessoas que estão passando por necessidades básicas, sem emprego, sem dinheiro, com saudades. Tudo isso leva à frustração, raiva, ansiedade e tristeza, gatilhos para a depressão”, diz a psicóloga que é pós-graduada em psicologia clínica e hospitalar pela UniFMU, mestranda em transtornos do espectro autista e especialista em terapia integrativa e idealizadora da Sentir Terapias integrativas.

 

Quem pode ficar, quem não quer ficar

O estudo mostra ainda que quanto ao hábito de saída para atividades não essenciais, o percentual dos que saem é maior entre os homens e entre os mais jovens – 24,5% deles dizem que estão saindo para atividades não essenciais, contra 7,4% delas. Além disso, 23,5% das pessoas com idade entre 16 e 29 anos também dizem que saem de casa para atividades não essenciais. Esse percentual cai para 8,7% entre os que têm mais de 50 anos. O levantamento revela também que não há diferença significativa ao olhar pela renda alta versus renda baixa – com 15,7% da classe alta dizendo que sai para atividades não essenciais e 17,5% das pessoas com menor renda.

Em relação ao fechamento dos estabelecimentos não essenciais para combater a covid-19 imposta pela prefeitura, as mulheres são as que mais concordam as restrições, com 69% delas se dizendo favoráveis às medidas contra 58,2% dos homens. Ainda neste item, a pesquisa mostra uma tendência de maior discordância com essa restrição entre as pessoas de renda baixa – 35% contra os fechamentos, enquanto na alta renda esse percentual sobe para 38,2%.

Quando o assunto é proibição de eventos e festas, o índice de concordância é alto em todos os grupos, sendo que nos bairros com renda mais alta chega a 93,1% dos moradores e 84,5% entre quem tem renda menor (veja arte). Por fim, o estudo mostra que o contraste entre a proporção dos que dizem respeitar e o que observam nos vizinhos. Entre os bairros mais favorecidos, 52% acham que os vizinhos têm respeitado as restrições impostas na cidade. Esse percentual cai para 42,7% quando os pesquisados moram em lugares de baixa renda.

Bianca destaca que, além de todo o impacto psicológico que a pandemia tem trazido, as pessoas têm que lidar ainda com o julgamento e que isso pode trazer ainda mais desgastes  para a sociedade em geral.

A profissional de marketing Gabriela Domingues Mendes, 35, diz que não tem sido fácil ficar em casa esse tempo todo. Trabalhando em home office, ela disse que só sai de casa para ir ao mercado, farmácia e levar os filhos à terapia. “Eu acho que as pessoas que não respeitam não têm amor à própria vida e à vida do próximo. Acho que essas pessoas não estão preocupadas com o momento em que vivemos. São imediatistas”, avalia. “Com mais pessoas saindo sem necessidade só aumenta a circulação do vírus.”

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