Relações familiares influenciam (e muito) o bem-estar

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A musicoterapeuta Silvinha Imenez, de 56 anos, tem na família a base do seu bem-estar. “Por aqui, nossa rotina é de bom humor. A música é muito presente na nossa casa e as orações diárias nas refeições contribuem com o clima.”

Já a professora de ioga Giovanna Ribeiro, de 28 anos, aproveita toda oportunidade que tem para visitar sua família no interior de São Paulo. “São momentos que eu vivo com eles aos fins de semana e que estão muito atrelados a esse sentimento de bem-estar, de reorganizar os pensamentos. É uma sensação de aconchego, de conforto.”

As relações familiares são protagonistas na percepção de bem-estar para uma a cada quatro pessoas. O dado é do Instituto Informa, que entrevistou mil pessoas no início de março para compreender como os brasileiros enxergam sua qualidade de vida. No total, 75,1% dos participantes avaliam positivamente o bem-estar, com notas entre 7 e 10. Outros 20,1% consideram o bem-estar moderado (notas 4 a 6) e 4,2%, ruim (notas de 1 a 3).

Ao serem perguntados sobre o principal aspecto da vida que justifica a classificação, 24,4% indicam a família, seguido pela saúde (23,3%), as finanças (20,3%) e a saúde mental (18,5%). As citações à família são mais presentes entre os que avaliam positivamente o bem-estar, com 26,6%.

“A família é muito importante na formação da nossa segurança, da autoestima, dos valores e para a construção da nossa identidade. É o nosso primeiro contato com o mundo, o afeto da mãe na amamentação, os cuidados do pai ou da rede de apoio nos primeiros banhos. Isso nos afeta e nos constitui”, afirma a psicóloga Ana Gabriela Andriani, especialista em atendimento de casais e famílias pela Northwestern University e doutora pela Unicamp.

 

Tempo de qualidade

O estudo também pediu para que os entrevistados escolhessem o fator que mais produziu bem-estar junto aos familiares no último mês. Passeios (21,6%), encontros (19,1%), confraternizações (18,7%) e viagens (9,5%) reuniram o maior número de respostas.

“São relações que se dão de forma próxima, com parceria, com uma sensação de proteção, com uma sensação de amparo, de troca, de afeto. A gente se sente mais forte, a gente se sente mais protegido e a gente se sente menos só”, explica a psicóloga.

O tempo de qualidade com a família no interior, para Giovanna, recalibra as energias para a vida na capital paulista. “Amo poder sair da minha rotina e ir para o meio do mato, almoçar com os meus avós, que estão com seus 86 e 87 anos. Estar próxima deles, na natureza, preparando as refeições juntos, é algo que me faz muito bem.”

 

A importância da escuta ativa

A pesquisa do Instituto Informa aponta ainda que a influência das relações familiares motiva parte expressiva dos entrevistados que deram notas menores ao próprio bem estar. Para os que o avaliaram como ruim, 19,5% têm a família como principal justificativa e, entre os que disseram ser moderado, 17,2% consideram esses relacionamentos determinantes a sua percepção.

Segundo Ana Gabriela, esse cenário se dá pela complexidade das relações. “A família reúne um monte de gente que não se escolheu. A gente escolhe os nossos amigos, os familiares, não. Nem toda mãe ou pai têm facilidade de atender às necessidades dos filhos, nem todos conseguem se conectar da mesma forma, ou prover o mesmo nível de afeto.”

E como as famílias problemáticas podem virar o jogo? Para a especialista, o segredo está no poder da escuta ativa e do diálogo. “O primeiro passo é conseguir aceitar e conviver com o diferente, se colocar no lugar do outro e respeitar seu espaço, seu jeito de ser. A partir daí surge o acolhimento e a construção de uma relação de ajuda mútua. É assim que se constrói um vínculo familiar.”

A família Imenez dá o bom exemplo. “Há um diálogo constante e um respeito às opiniões. Bem-estar com a família também é ter compreensão, levar a vida com mais leveza, mesmo nos momentos mais pesados”, conta Silvinha. 

 

 

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