Comparação mostra que institutos apresentam diferentes metodologias, com variações substanciais nos percentuais

A profissionalização das campanhas eleitorais no Brasil é um tema recorrentemente discutido no âmbito dos estudos da Ciência Política. Desde o fim dos anos 80, o país tem presenciado um uso crescente de métodos e instrumentos de comunicação política, estratégias e planejamento de campanha com o objetivo de ampliar as chances de vitória dos competidores. Nesses quase 35 anos, três momentos podem ser considerados fundamentais no processo de profissionalização: o uso do rádio e da televisão; a internet (em meados dos anos 2000) e, finalmente, a campanha orientada para o ambiente digital.

Para além da produção de conteúdos para esses meios, com suas formas e modelos próprios, as campanhas eleitorais no Brasil têm apostado também em um crescente uso de pesquisas de opinião para compreender os interesses, vontades e as expectativas dos eleitores. A pesquisa eleitoral, seja ela quantitativa ou qualitativa, oferece subsídios para que os competidores possam alinhar suas propostas e discursos com as preferências do eleitorado. Um levantamento nas bases do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) demonstra como partidos, candidatos e até mesmo outros agentes da sociedade têm investido na contratação de pesquisas eleitorais.

Somente entre janeiro e o fim de maio deste ano, já tivemos 1.651 sondagens, número 307% maior do que o registrado no mesmo período em 2020, quando foram realizadas 406 pesquisas. A diferença demonstra claramente que há um forte interesse dos agentes envolvidos direta ou indiretamente no processo eleitoral por um tipo de informação que pode ser determinante na definição de estratégias, mobilização de candidaturas e apoios políticos. E esses números tendem a subir nos próximos meses, sugerindo que 2024 poderá bater o recorde de pesquisas para disputas municipais.

Quando desmembramos os dados por estados, verificamos aqueles nos quais a produção de pesquisas eleitorais cresceram fortemente entre 2020 e 2024, considerando o período de janeiro a maio. Piauí, Goiás e São Paulo, como o gráfico demonstra, lideram a lista este ano.

Um outro dado que merece ser observado é quem realiza as pesquisas. Pelos dados do TSE, há uma mudança de padrão, comparando os dois períodos de 2020 e 2024. Enquanto na pré-campanha de 2020, os institutos tendiam a realizar a própria pesquisa informada ao TSE (77%), este ano tem prevalecido a subcontratação de institutos de pesquisa (56%).

Diferenças metodológicas

Embora apresentem diferenças metodológicas, as pesquisas cumprem de maneira satisfatória o propósito de identificar tendências, ao contrário de que muita gente acredita que seja “prever resultados eleitorais”. Em três décadas de pesquisas, agora experimentamos métodos variados, com uso da Internet para localizar os respondentes, ou mesmo modelos clássicos como fazer entrevistas em ponto de fluxo, ou seja, onde há aglomeração de pessoas ou ainda a entrevista no local de residência dos eleitores.

Tudo isso impacta os dados das pesquisas. Exemplo. Este ano, três institutos produziram pesquisas eleitorais para a pré-campanha de São Paulo. Conforme é possível verificar na tabela abaixo, o tipo de método aplicado altera consistentemente os resultados, especialmente entre o modelo digital x presencial.

O pré-candidato Guilherme Boulos chega a apresentar uma diferença de 13 pontos percentuais entre a pesquisa do Atlas e o DataFolha. Ricardo Nunes, por sua vez, registra uma diferença de 5 pontos percentuais entre o DataFolha e o Instituto Paraná. Chama a atenção também o desempenho do pré-candidato Datena, que apresenta quatro pontos percentuais de diferença entre o DataFolha e o Instituto Paraná.

Além das intenções de votos, outro dado também pode ser destacado. A proporção de Brancos/Nulos e Indecisos é fortemente diferente entre os institutos. Entre o Atlas e o DataFolha a diferença é de cerca de 15 pontos percentuais, enquanto entre o DataFolha e o Paraná Pesquisas, quatro pontos percentuais. Tudo indica que as diferenças metodológicas podem estar subestimando esses percentuais, caso do Atlas, que adota o modelo online de pesquisa, ou superestimando esses valores, caso do DataFolha e ou Paraná. Como sabemos, há um conhecimento mais ou menos estável de que, no momento da pré-campanha, Brancos/Nulos e Indecisos tendem a apresentar percentuais maiores, apresentando declínio assim que a campanha efetivamente comece. Vamos acompanhar os dados desses três institutos para ver se estamos em um cenário muito diverso do padrão da pré-campanha ou se há um maior descolamento entre os dados e o retrato do momento.