Dados recentes do IBGE expõem pequenas mudanças em forma de alívio e manutenções dramáticas da desigualdade. Ainda que a diminuição sensível de alguns indicadores seja observada, o que merece ser comemorado, os efeitos da pobreza ainda são implacáveis. Não podemos desprezar o fato de que estamos entre os países mais desiguais do mundo e, tampouco, deletar de nossa consciência o sofrimento de milhões de brasileiros. Triunfa no Brasil uma grande inimiga, que não é apenas dos impactados por fragilidades sociais.
Em recente pesquisa do Instituto Informa, realizada para produção científica, identificamos que 13,2% dos respondentes sofrem de insuficiência alimentar frequentemente. Ainda que os respondentes sejam adultos, representam domicílios com crianças. Podemos projetar esse percentual para a população brasileira – como forma de exercício argumentativo, mas sabemos que os domicílios com menor renda tendem a ser mais numerosos: 2,8 milhões de pessoas! Não se trata de questão menor. Temos uma grande e aterrorizante inimiga!
Para além das retóricas políticas, das comparações entre performances nos indicadores, a desigualdade está entre nós historicamente. O reconhecimento dos governantes acerca das vulnerabilidades sociais é apenas um aspecto importante. No entanto, é a visão de mundo que pode determinar ações ou omissões dos governos. No atual cenário político, corremos sérios riscos com inércias patrocinadas por perspectivas políticas insensíveis. Exemplo de flâmulas neoliberais meritocratas, do “faça você mesmo”, que vende sonhos inalcançáveis para os mais vulneráveis – e ainda impõem a culpa por flagelos. Trata-se da perversidade discreta argumentada com doses de falsa benevolência.
Um país que despreza o flagelo de parte de seus habitantes está destinado ao papel coadjuvante! Daremos passos superlativos para um futuro mais promissor ao tratarmos a desigualdade enquanto inimiga de todos nós.