O 25 de julho é o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, uma data em que as mulheres negras, indígenas e de comunidades tradicionais refletem e fortalecem as organizações voltadas às mulheres e suas diversas lutas. No Brasil, a data foi instituída em 2014 como o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, homenageando uma das principais mulheres, símbolo de resistência e importantíssima liderança na luta contra a escravização.

Nesta data que marca a luta das mulheres negras, contamos a história de Raquel Chrispin. Sua trajetória é um testemunho de determinação, inovação e compromisso com um mundo mais justo e sustentável, inspirando muitos outros a acreditarem que, tijolo por tijolo, é possível construir um mundo melhor como profetizava Ângela Davis: “quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela”.

Aos seis anos de idade ela carregava tijolos ajudando os pedreiros em uma obra na casa de seus pais. Mas como o colega trabalhador não tinha recursos para pagar a pequena Raquel, ela cobrava de seu pai.

A lembrança da infância feliz e saudável em Petrópolis, RJ, forma uma analogia perfeita com o que veio a ser o projeto da vida daquela criança chamada Raquel Chrispin que hoje, do alto de seus 47 anos, ocupa a cadeira de CEO da RC8 Negócios Inclusivos. E se você pensou que o RC do nome da empresa são as iniciais dela, pode esperar mais um pouco. RC significa Responsabilidade Corporativa. Mas talvez as coincidências não sejam por acaso.

Dos tijolinhos a uma rede de mais de 20 mil pessoas impactadas pelos projetos capitaneados pela RC8, a trajetória de Raquel foi sendo construída em bases sólidas. Graduada em Comunicação Social pela Universidade Federal de Juiz de Fora e Mestre em Sociologia pela UNIPERJ, as experiências profissionais anteriores ao seu próprio empreendimento cimentaram as impressões que precisavam ser conhecidas para que suas estratégias fossem eficazes e impactantes como são hoje. Durante seu breve período no Jornalismo como produtora de uma rede de TV e logo depois como assessora de imprensa das Prefeituras de Juiz de Fora e Paraíba do Sul, Raquel pode ver de perto uma realidade que queria mudar. Foi ali, nos bastidores, que entendeu que havia espaço para a construção de uma ponte, e lá foi a menina dos tijolos preparar sua obra, consciente de que ser mulher, negra e independente talvez trouxesse possíveis dificuldades à tona.

Com o Jornalismo no retrovisor, a estrada à frente só poderia virar uma ponte com sua entrada no Instituto Ethos em 2006, aproximando cada vez mais do universo da responsabilidade social e sustentabilidade ao formar parte do Programa TEAR – construindo redes sustentáveis. Ali, Raquel viu em primeira mão como a cadeia de valor de grandes empresas como Vale, Arcelor Mittal, Gafisa, Grupo Pão de Açúcar e outras tantas poderia ser aprimorada com a adesão de pequenas e médias empresas capacitadas com metodologias potentes e inovadoras. Não demorou muito para que ela abraçasse cada vez mais responsabilidades e ser convidada pelo próprio Instituto Ethos a se tornar uma consultora para atuação em parcerias de maior escala. Para quem carregava tijolinho por tijolinho quando criança, ver obras como a construção do Anexo Brasil da GRI se erguendo sob seu olhar atento tem lá o seu valor.

A passagem pelo Instituto Ethos proporcionou a percepção do impacto possível quando se trabalha as bases. Ao começar a atuar com associações e cooperativas, viu de perto as potências e competências que podem ser conectadas e inseridas em grandes processos, gerando valor, bem-estar e transformação. Foi aí que os Negócios Inclusivos viraram o epicentro de sua dedicação, focando em gerar prosperidade num mundo desigual, atuando no micro para o impacto no macro.

Hoje a RC8 comemora seus 15 anos de existência com muitos tijolos assentados, literal e metaforicamente. Com uma equipe de 30 colaboradores no Brasil, França e Emirados Árabes, uma a rede se expande e fortalece a partir de um ideal tão simples e tão complexo.

E assim Raquel, a menina dos tijolos que cresceu para tornar-se uma líder visionária no campo dos negócios inclusivos, segue erguendo novas estruturas que ajudam a mudar estórias. Sua trajetória é um testemunho de determinação, inovação e compromisso com um mundo mais justo e sustentável, inspirando muitos outros a acreditarem que, tijolo por tijolo, é possível construir um mundo melhor.