O ano de 2024 é eleitoral e as pré-campanhas já estão a pleno vapor pelo Brasil. Em outubro, cidadãos vão às urnas eleger prefeitos e vereadores responsáveis por pensar os municípios pelos próximos quatro anos.

Segundo a professora da ESPM-RJ e doutora em Políticas Públicas, Luciana Guilherme, o pleito abre a possibilidade de se discutir temáticas prioritárias com base no bem-estar da população. Para isso, porém, é preciso equilibrar a prática com um bom discurso, capaz de dialogar com diferentes eleitores.

A especialista é uma das palestrantes do seminário “Reputação, Dados, Segurança Jurídica e Política Pública com Bem-Estar: 4 Pilares para uma Comunicação Eleitoral Eficiente”, organizado pelo Instituto Informa. O evento será no dia 23 de maio, a partir das 14h, no Windsor Florida Hotel, no Rio de Janeiro. 

Serão seis palestras, posteriormente compiladas em um e-book com distribuição gratuita. Ao Balizah, Luciana compartilha sua visão sobre a construção de políticas públicas visando o bem-estar para a conquista da reputação eleitoral. Confira a entrevista:

Como a política pública deve olhar para o bem-estar?

A política nasce do consenso para o bem comum coletivo. E quando falamos no exercício da política pública, ela está direcionada às temáticas prioritárias, já que não é possível tratar de tudo ao mesmo tempo. Essas áreas devem estar associadas a problemáticas que a  sociedade enfrenta, então é necessário entender quem é essa sociedade, criando canais de escuta e construindo um espaço de consulta e acompanhamento contínuo.

Quando os prefeitos se candidatam, por exemplo, eles montam um programa de governo, com plataformas e programas prioritários para as cidades, cada uma com seu tamanho, estrutura e problemáticas.

É importante que a política pública entenda, de forma concreta e efetiva, o que a sociedade está passando e quais são as ações que devem ser tomadas para, em médio e longo prazo, gerar um desenvolvimento para o território. E isso é especialmente importante para prefeitos e vereadores que estão pensando a cidade conjuntamente.

E qual é o papel da comunicação eficiente nesse processo?

É preciso encontrar um equilíbrio entre prática e discurso. O discurso sozinho é vazio. Ele pode até eleger, mas não se sustenta na medida que, no dia a dia, as pessoas sentem dificuldades na vida, na prática. Por outro lado, não estar atento ao poder da comunicação e a essa linguagem tecida nas diversas comunidades, é arriscar perder espaço e a oportunidade de implementar políticas sérias.

O olhar não pode estar apenas para as políticas públicas, ou apenas para o discurso. É preciso praticar as duas coisas. Isso aumenta a complexidade das campanhas. Temos bons políticos, com visões de mundo interessantes, que pensam no coletivo e no bem comum, mas que não sabem se comunicar. Isso é um tiro no pé, porque essa pessoa não será compreendida e não será eleita.

A aproximação do campo comunicacional é fundamental, com uma linguagem popular e que foge do lugar dos intelectuais. É importante chegar junto da população e não subestimá-la. Muitos políticos erram ao avaliar as pessoas a partir de informações prévias, mas não há ninguém melhor para falar sobre um problema do que a pessoa que enfrenta esse problema.

Esse equilíbrio é ainda mais importante na era das fake news?

As fake news são um problema seríssimo. Discursos podem ser definidores de realidades, ou ao menos de crenças relacionadas à realidade. E enfrentar a mentira é um desafio gigante, principalmente quando falamos da boa política. 

O mau político sempre vai usar da mentira. As fake news sempre existiram e vão continuar existindo. O termo em inglês abarca esse momento de mentira global, de um potencial de escala, muito além do boca a boca, que se espalha pelo celular e o computador. A possibilidade de replicação e manipulação, a partir de algoritmos, é algo claro. Vimos nas eleições recentes casos de lideranças políticas que usaram essa ferramenta.

É preciso ter concretude e compreensão das reais necessidades no território, abrir canais de articulação com a sociedade, para que ela se envolva nas soluções. É preciso saber comunicar e essa comunicação passa por sensibilização e por mobilização. É tudo integrado.

Como uma equipe de campanha contribui com uma boa reputação política?

Uma boa equipe é fundamental. O político é a liderança eleita, mas não existe um vereador, deputado, senador, prefeito, governador ou presidente que trabalhe sozinho. A equipe caminha junto e é co-responsável pela execução da política, da sua formação aos seus mecanismos de escuta e de comunicação clara e mobilizadora.

É importante entender que temos, de um lado, a campanha eleitoral e, de outro, ações de marketing político. Um problema que eu vejo é que existem políticos cujo investimento de campanha é incrível, com uma comunicação muito boa, mas que só trabalham sua imagem e construção de conexão com a população na época da eleição.

Então, para além do marketing eleitoral, temos um marketing político que deve ser contínuo e garantidor daquilo que foi prometido em campanha. A gente não fica doente de quatro em quatro anos, não é? Não trabalhamos, ou estudamos, ou nos locomovemos pelas cidades só de quatro em quatro anos. É um processo contínuo.

Essas velhas atitudes têm abalado a confiança da população na política?

Existe uma certa descrença, um incômodo. A crise política dos últimos anos também gerou uma crise de representatividade, de dizer que “nenhum político presta, todos só querem roubar”. A política perde porque sabemos que tem quem queira fazer diferente. Eu acredito nisso.

O caminho para resolver esse tipo de pensamento é a partir de políticas de serviços públicos, que promovem o bem-estar de forma contínua. Está na ponta, em aparecer nos bairros não apenas de quatro em quatro anos, mas ter continuidade, ouvir a população e implementar soluções.