Os desafios enfrentados pelos brasileiros para manter uma alimentação equilibrada
A alimentação saudável é um desafio para muitos brasileiros, e o acesso a alimentos de qualidade ainda enfrenta diversas barreiras. Estudo do Instituto Informa, realizado em julho, revela que, para 66,3% da população, o principal obstáculo para uma alimentação equilibrada é o alto custo dos alimentos. A dificuldade é maior entre as classes econômicas mais baixas, mas também é sentida por outros segmentos da população.
A pesquisa destaca que a percepção de alto custo está diretamente relacionada à falta de conhecimento sobre como manter uma dieta saudável de forma acessível. “A indústria alimentícia está sempre trazendo novos produtos com apelos nutricionais, mas comer bem não precisa ser complicado ou caro. Muitas vezes, optar por alimentos naturais e menos processados pode ser mais barato e muito mais saudável. É sobre descascar mais e desembalar menos”, afirma a nutricionista Mônica França Horta, especialista em saúde coletiva e nutrição do estilo de vida.
Essa visão é compartilhada por Ruth Guilherme, presidente da Asbran (Associação Brasileira de Nutrição), que ressalta que “a ideia de que comer bem significa gastar mais não é totalmente verdadeira. Com planejamento e conhecimento, é possível adotar uma alimentação saudável sem incorrer em altos custos.”
Pouco tempo e baixa oferta
Apesar dessas alternativas, a falta de tempo é outro fator que impede muitos brasileiros de manter uma alimentação equilibrada. Segundo o estudo, 9,5% dos entrevistados apontam a falta de tempo como um grande empecilho, especialmente entre aqueles que vivem em grandes centros urbanos e enfrentam longas jornadas de trabalho e deslocamento. “A falta de tempo e o ritmo acelerado da vida moderna levam muitas pessoas a optar por refeições rápidas e práticas, mesmo que sejam menos nutritivas”, explica Mônica.
Além do custo e do tempo, a baixa oferta de alimentos saudáveis nos mercados e feiras foi citada por 10,8% dos participantes como uma barreira significativa. Essa dificuldade é mais evidente na região Norte, onde o isolamento geográfico e a logística de transporte tornam os alimentos frescos e variados mais escassos e caros. “Muitas comunidades ficam em áreas de difícil acesso, onde a disponibilidade de alimentos frescos é limitada. Isso leva ao aumento do consumo de alimentos ultraprocessados, menos perecíveis, mais fáceis de transportar e mais baratos, mas que têm menor valor nutricional e contribuem negativamente para a saúde”, afirma Ruth Guilherme.
O impacto na saúde pública
Essas barreiras ao acesso a uma alimentação saudável resultam em consequências preocupantes para a saúde pública. O oncologista José Carlos Sadalla, do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP), alerta que “o consumo excessivo de alimentos gordurosos, frituras e açúcares, aliado a maus hábitos como o sedentarismo, aumenta significativamente o risco de desenvolver câncer e outras doenças crônicas.”
A relação entre alimentação inadequada e problemas de saúde é reforçada pelo psiquiatra Táki Cordás, coordenador da Assistência Clínica do Instituto de Psiquiatria do HCFMUSP. “O consumo frequente de alimentos ultraprocessados pode levar ao desenvolvimento de compulsão alimentar, especialmente em pessoas que enfrentam problemas emocionais. A falta do ritual de preparar e compartilhar uma refeição em família também contribui para uma relação pouco saudável com a alimentação.”
Diante desse cenário, é fundamental promover políticas públicas que tornem os alimentos saudáveis mais acessíveis e que incentivem a educação nutricional. “O enfrentamento à fome e à má alimentação no Brasil requer um esforço contínuo e coordenado entre governo, sociedade civil e setor privado”, defende a presidente da Asbran.
Para Mônica França Horta, a educação nutricional é uma das chaves para superar essas barreiras. “As famílias precisam não apenas de acesso aos alimentos, mas também do conhecimento necessário para fazer escolhas saudáveis. Investir em educação alimentar pode transformar a maneira como os brasileiros se alimentam, reduzindo a prevalência de doenças relacionadas à alimentação inadequada.”