Essencial para a vida, a alimentação é vista de maneira diversa por brasileiros de diferentes idades e classes sociais. Um estudo recente realizado pelo Instituto Informa destaca essas variações, revelando como o ato de comer e a percepção de sua importância para o bem-estar mudam ao longo da vida e conforme o poder aquisitivo.

O estudo aponta que, entre os jovens de 18 a 29 anos, 82,6% consideram a alimentação de grande relevância para a qualidade de vida. O percentual, porém, aumenta significativamente com a idade, alcançando 92,8% entre os brasileiros com mais de 50 anos. A diferença reflete as mudanças nas necessidades e nas prioridades ao longo da vida.

A nutricionista Aline Lopes, associada ao CRN-3 (Conselho Regional de Nutricionistas da 3ª Região – São Paulo), explica que as necessidades nutricionais evoluem conforme envelhecemos. “No processo de envelhecimento, o metabolismo desacelera, e o estilo de vida que levamos até então pode influenciar no aparecimento de doenças crônicas como diabetes e hipertensão. Por isso, a alimentação saudável impacta positivamente nos parâmetros de saúde, tornando-se ainda mais importante com o passar dos anos.”

A maior importância atribuída à alimentação pelos mais velhos pode ser explicada, em parte, pela preocupação com a longevidade e com a prevenção de doenças. “Quem busca um estilo de vida mais saudável e se alimenta melhor pode prolongar sua expectativa de vida, mesmo que sua genética não seja tão favorável”, diz o médico nutrólogo Renato Lobo.

Impacto da renda na alimentação para o bem-estar

Para além da experiência de vida, a renda familiar também influencia na percepção do ato de comer como fundamental para o bem-estar. De acordo com a pesquisa do Instituto Informa, entre brasileiros de classe A – com renda média familiar acima de R$ 14.520 – a alimentação é unanimemente considerada de grande relevância na qualidade de vida. Já nas classes D e E – com renda média familiar de até R$ 1.320 – esse percentual cai para 79,1%.

“A alimentação deixa de ser percebida como algo que agrega na qualidade de vida quando ela representa apenas a base para a sobrevivência”, observa Aline Lopes. “Se uma pessoa ganha um salário mínimo e destina 50% dessa renda para comprar comida, sobra muito pouco para todos os demais custos”, completa.

Essa realidade se reflete diretamente na saúde da população. “Pessoas de classes D e E, limitadas em seu poder de compra, buscam o básico do básico. Elas trabalham para comer, mas não necessariamente para comer bem, o que impacta negativamente na qualidade de vida e na saúde a longo prazo”, afirma o sociólogo Fábio Gomes, diretor científico e fundador do Instituto Informa.

O que é comer bem?

O estudo também avalia a forma como diferentes grupos interpretam o conceito de “comer bem”. Para 41,1% dos brasileiros, o ato está associado a sentir-se bem, um conceito que vai além do simples ato de saciar a fome e está ligado ao prazer e ao bem-estar que a alimentação proporciona.

Entretanto, essa interpretação também varia conforme a idade e a classe social. Entre os mais jovens, a alimentação é vista como um meio para matar a fome e manter o corpo funcionando, enquanto os mais velhos tendem a valorizar mais os aspectos nutricionais e os benefícios para a saúde em longo prazo.

Aline Lopes destaca que “comer bem” deve ser entendido de forma ampla, considerando tanto o prazer quanto o equilíbrio nutricional. “Uma alimentação equilibrada, que inclui uma variedade de nutrientes, é essencial para manter o corpo em funcionamento adequado e prevenir doenças, especialmente à medida que envelhecemos”.

A pesquisa do Instituto Informa mostra que a relação entre alimentação e bem-estar é complexa e influenciada por diversos fatores, como idade, renda e acesso a alimentos saudáveis. Compreender essas nuances é fundamental para desenvolver políticas públicas e estratégias de saúde que atendam às necessidades específicas de cada grupo da população.