Uma agenda política que possa atender entre 18 e 28 milhões de brasileiros categorizados na extrema pobreza é urgente – a variação numérica é fruto de projeções metodológicas indicadas pelo documento Síntese de Indicadores Sociais do IBGE de 2022.
Bruno Latour e Nikolaj Schultz em “Memorando sobre a nova classe ecológica” trazem importante reflexão sobre a necessidade do surgimento da defesa hegemônica da ecologia, para além das defesas ideológicas – dada a urgência do tema que se apresenta dramática a cada dia. Esse texto inspira outras visadas sobre dramas sociais, como é o caso da questão da extrema pobreza.
Essa agenda é um dever de todos nós, independentemente de credo ou ideologia. Um campo importante, que impacta as questões governamentais, é a polarização que edificou comportamentos políticos desde 2018. De um lado, a direita extremada autodenominada cristã, defensora da meritocracia social, insensível quanto às questões sociais, desatenta ao conteúdo bíblico de Mateus 25:31-46 – e da mensagem dura de Jesus sobre os insensíveis sociais: “apartai-vos de mim, malditos”. Do outro, a extrema esquerda também insensível ao social, com pregação seletiva na defesa de minorias (ainda que muito necessário, desde que sem a visada míope em relação aos grandes dramas sociais) e defesa velada de líderes com legados trágicos que produziram grandes males, de Lenin a Maduro – vale lembrar os textos críticos de Slavoj Zizek sobre a nova esquerda. Dificilmente esses extremos se unirão em uma agenda comum, ainda que seja para o benefício de milhões de brasileiros. Mas fora dos extremos, ainda que próximos aos pensamentos de direita ou esquerda, é possível pensar em uma articulação (nos termos dos pensadores de esquerda, que não contam com a simpatia dos esquerdistas, Laclau e Mouffe) é absolutamente necessária para salvar um contingente superlativo da miséria e fome.
Outro campo importante é o empresarial. Ainda que com casos exemplares de ações com relevante impacto social, ausências e inercias estão presentes nesse campo. A agenda 2030 ONU tem estimulado muitas ações importantes no mundo empresarial. O ESG (sustentabilidade ambiental, social e governança corporativa), por exemplo, tem se apresentado como mecanismo de organização das ações que beneficiam o campo social (entre outros) em todo o mundo – com severas dificuldades metodológicas para medições de seus efeitos concretos. No entanto, serve também de biombo para as corporações apenas interessadas em potencializar publicidade. As corporações com artimanhas cínicas, insensíveis ao social, com o tempo passarão por severos escrutínios públicos – a reputação que almejam tem raízes mais profundas do que o oferecido pela publicidade mágica. O mundo corporativo pode oferecer muito mais para um campo social, que promete ser cada vez mais desafiador – não obstante as severas dificuldades de empreender no Brasil.
A agenda comum é de todos nós! A união de ações e cobranças dos cidadãos para a salvação de pelo menos 18 milhões de brasileiros pode produzir grandes transformações sociais.