Comida e bebida estão no topo da lista de desejo dos brasileiros

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Faltando pouco mais de três meses para o Natal, a expectativa para comemorar a data com uma farta ceia já é grande na casa da comerciante Nilcéia dos Santos, 57 anos. Após ter sido adiada duas vezes devido à pandemia, a reforma do imóvel, em Quintino, zona norte do Rio, agora está a pleno vapor. Os próximos planos incluem comprar uma TV de tela maior e um laptop para facilitar o trabalho remoto. “Não é que a situação esteja boa, mas após tanto sufoco financeiro, conseguimos nos estabilizar. Juntamos um pouquinho daqui e dali para comprar itens novos para o lar. Superamos casos de covid-19 na família, estamos quase todos vacinados, por isso queremos celebrar esse recomeço.”

A tendência de consumo dos brasileiros para os próximos meses foi analisada em uma pesquisa realizada por Bateiah Estratégia e Reputação, com 1.455 pessoas, nas regiões do Brasil. Alimentos e bebidas são os itens que estão no topo da lista, com 26,9%. Em um segundo patamar, com 14%, vem a tendência de aumento na aquisição de eletrodomésticos, eletrônica e informática, material de construção e cursos.

Confira o infográfico a seguir:

Mais saciedade, menos gastos

A tendência de aumentar o consumo de alimentos e bebidas é maior entre os brasileiros com menor poder aquisitivo (31,1%), que possuem renda familiar de até cinco salários mínimos. Já a intenção de aumentar o consumo desses itens é maior na região Nordeste (33,1%).

“Nas famílias com renda mensal mais baixa, os principais alimentos da dieta, considerando o peso dos produtos adquiridos, são os cereais, leguminosas, o que inclui também o arroz e o feijão, seguido dos laticínios. Nas famílias com maior renda, os principais itens na mesa, também levando em conta o peso dos produtos, são frutas, laticínios e hortaliças. Basicamente, essa preferência de intenção de consumo está ligada a sensação de maior saciedade, com menor gasto de dinheiro”, analisa Ana Beatriz Moraes, economista e professora do Ibmec-RJ (Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais).

Com mais tempo em casa, vem a necessidade de mais conforto e distração. “Daí o desejo de as pessoas quererem mais artigos de informática e eletrônicos de uma forma geral. Acho que o principal propulsor do consumidor nesse momento é a mudança de hábito”, analisa a economista.

Ana Beatriz cita como exemplo uma família que não tinha determinado eletrodoméstico, por considerar dispensável e, com a pandemia, passou a ter essa necessidade. “Um casal trabalhando remotamente e com os filhos em aula online, com um único computador, essa tarefa se torna impossível. Se pararmos para pensar também, os fones de ouvido nunca foram tão necessários na rotina das pessoas. Assim como as TVs passaram a ter uma posição absolutamente especial nas casas com as crianças em tempo integral.”

Hábitos de consumo mudaram

A pandemia restringiu deslocamentos em todo o mundo e, com isso, também fez surgir mudanças nas formas de consumo e de interação com os consumidores. Os aplicativos de entregas e as redes sociais se intensificaram. Como revela o levantamento de Bateiah, a intenção de consumir mais alimentos e bebidas destaca-se entre os brasileiros que acessam Instagram (31,6%), Tik Tok (27,7%), Facebook (23,9%) e WhatsApp (29,1%). “Essa relação mostra o quanto as imagens falam mais para as pessoas e também o quanto a facilidade e a comodidade chamam o consumidor”, observa a economista do Ibmec.

A pandemia trouxe muitas opções para que o consumidor comprasse pelos meios eletrônicos e não só o comércio se adaptou, como também os compradores. “O consumidor, por um lado, ficou mais atento às ofertas, já que a ameaça de contaminação por covid-19 fez com que ele não quisesse sair de casa. Então o online passou a ser a primeira opção. Do outro lado, os estabelecimentos comerciais começaram a investir efetivamente, caprichando nos sites, na interação nas redes sociais, nas ofertas, logística de entregas e meios de pagamentos”, diz Ana Beatriz.

O veterinário Ernani de Castilho, 45 anos, morador da Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, diz que a pandemia o tornou um ávido consumidor por compras online e também por cursos virtuais. “Eu não tinha esse hábito, mas, hoje, até compras do Hortifruti do bairro passei a fazer pela internet. Recebo as ofertas no grupo do zap. Ainda aproveitei o período de isolamento para fazer cursos online e planejo fazer outros.”

Situação financeira piorou

Apesar da intenção de aumento de consumo, a perda da renda foi – e continua sendo – o mais duro desafio de grande parte das famílias brasileiras. Uma pesquisa complementar de Bateiah.com, realizada em julho, sobre a situação financeira antes da pandemia e atualmente, constatou que a grande maioria dos brasileiros (78,5%) sente que sua situação financeira piorou no comparativo antes da pandemia. O levantamento foi feito com 1.455 pessoas, nas regiões do país.

Famílias com menor poder aquisitivo sentiram mais a piora na renda. Entre os que ganham até dois salários mínimos (87,7%), quase a totalidade menciona que sua situação financeira atual piorou. A percepção de piora nas finanças é menor (45%) entre os de maior poder aquisitivo.

Para Ana Beatriz, no entanto, a tendência é de positividade no cenário econômico para o próximo ano. “Ainda é preciso controlar a inflação, há muitas empresas em dificuldade, desemprego. O cenário ainda não é tão amistoso, mas acredito nas reformas. O primeiro semestre de 2021 foi, surpreendentemente, bastante positivo para a recuperação da economia. Ainda que tenhamos muitos desafios para superar, a expectativa é de continuidade dessa recuperação. Acho que, com o avanço da vacinação, principalmente o setor de serviços vai sofrer um impulso.”

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