O Brasil já foi conhecido como o maior exportador de café do mundo. Isso no final do século 19 e início do século 20. Com o passar dos anos, a exportação cafeeira entrou em decadência e tudo que era relacionado a esta época virou coisa do passado. À exceção do Vale do Café, conglomerado de 15 cidades da região do Vale do Paraíba do sul fluminense com grande potencial turístico e que faz questão de lembrar desta história. Nestas localidades o café deixou muito mais do que seu delicioso aroma.
O principal município do conjunto é Vassouras, localizado no centro-sul do Rio de Janeiro. Foi no passado que o destino ficou responsável por 75% do café exportado, o que gera, ainda, muito interesse do público. É o que garante o secretário de Desenvolvimento Econômico e Turismo da cidade, Wanderson Farias. “Como destaque deste legado nós temos as fazendas históricas, que produziram bastante café, e os nossos casarões e palacetes que pertenceram aos barões do café – tanto que ficou conhecida como a cidade deles, um total de 25. O destino está investindo na recuperação destes casarões e nós fizemos um trabalho de incentivar os proprietários das fazendas históricas, que as transformaram em pontos turísticos”.
Café com história
Entre as que servem de exemplo para visitação estão a Fazenda Santa Eufrásia, única de origem particular tombada pelo Iphan (Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), construída em 1830, e a São Luiz da Boa Sorte, que além de ser pousada, conta com visita guiada ao Museu do Café. “Trata-se do primeiro museu do estado do Rio de Janeiro dedicado ao assunto, onde o turista tem a experiência de conhecer a fazenda histórica, assistir a filmes contando a trajetória do café na cidade e no local, e também presenciar como é feito o plantio, a colheita e depois comprá-lo.”
Farias também cita o famoso Mirante Imperial, cuja reforma foi inaugurada em 2019, e de onde é possível vislumbrar toda a cidade de maneira privilegiada. Há também a Antiga Estação Rodoviária, cujo prédio foi inaugurado em 1914 e hoje funciona a Reitoria da Universidade de Vassouras, o Museu Ferroviário da cidade e onde está uma Locomotiva Baldwin de 1889, último exemplar que circulou pela Estrada de Ferro Dom Pedro II. “Nós também temos o Centro Cultural Cazuza, localizado em um prédio reformado com apoio da iniciativa privada. Tínhamos um casarão em situação precária e o com apoio da Lucinha (Araújo), mãe do Cazuza, nasceu nesta casa. Ela fez a reforma e pediu que colocasse o nome dele. Tem também sua estátua, pertences, o local é muito procurado”, ressalta o secretário. O espaço foi construído em 1845.
Há pouco a cidade também realizou o Fórum do Café, para discutir de que forma é possível retomar a produção dos grãos nas grandes fazendas. Segundo o secretário, o plantio do café é feito por 19% das cidades do estado e apenas 1% está no Vale do Café. “E neste 1% nós temos o café campeão do estado e um dos melhores do Brasil. No Fórum nós reunimos várias autoridades para discutir esta retomada”, ressalta. E criaram, após diversas discussões, o APL (Arranjo Produtivo Local) do Café, com o objetivo de trazer os produtores de hortaliças para a produção também do café. Isso movimenta a nossa economia e o turismo, que é o nosso principal produto para ser vendido.”
Turismo consciente
A cidade de Vassouras ganhou, no início do ano, o Prêmio Destaques do Turismo realizado pelo CIETH (Centro Integrado em Estudo de Turismo e Hotelaria do Rio), na categoria Instituições que Valorizaram o Turismo na Pandemia. Isso, segundo o secretário, é fruto de um trabalho gradual que tem sido feito por lá. “A cidade vem se preparando e, durante este período (pandemia) nós aproveitamos para organizar o turismo equipando os pontos turísticos principais da cidade. Com a primeira retomada, quando a pandemia deu uma trégua em um primeiro momento, a cidade criou vários protocolos de segurança para poder receber o turista com tranquilidade. Nós fomos a primeira cidade do Rio a criar o selo Turismo Consciente. Vassouras ganhou destaque como destino turístico porque fizemos este trabalho de preparar a cidade e de se reposicionar no cenário estadual e nacional.” O selo em questão trabalhou a necessidade tanto dos moradores quanto dos turistas cumprirem todos os protocolos de segurança contra a Covid-19.
Vassouras recebe bastante o público do chamado ‘bate e volta’, aqueles que vão apenas para passar o dia na cidade. Como forma de organizar as visitas, os guias dos ônibus, antes de chegarem lá, têm de encaminhar para secretaria a relação das pessoas que farão a visita, fazer vistoria com agente de vigilância sanitária, receber as instruções de segurança e a pulseira do Turismo Consciente. “Assim conseguimos identificar quem é o turista e a população fica mais tranquila. Demos segurança e, ao mesmo tempo, atendemos o comércio que estava agonizando, os restaurantes, os hotéis, dando um fôlego para todos.”
Incentivo
Além de promover a visita das crianças aos casarões históricos, e difundir a cultura local, a secretaria também tem um projeto junto aos moradores de Vassouras para que conheçam o potencial do local. “O vassourense tinha uma imagem negativa das fazendas, que só abriam ao grande público quando acontecia o evento chamado Festival Vale do Café, que atrai vários turistas, muito famoso, mas é um público A e B, e os moradores locais não tinham acesso.” Farias chamou os donos das fazendas e propôs que abrissem ‘as porteiras’ para os locais. Desde então, uma vez por mês, a prefeitura freta dois ônibus e leva os moradores, que já conheceram grande parte delas. “Hoje, este vassourense se transformou em um guia turístico, falando bem das fazendas, porque fizemos esta integração”. Com isso a cidade tem quase 35.000 ‘cicerones’ em potencial.