Os hábitos da quarentena que (tomara) vieram para ficar

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Os hábitos da quarentena que vieram para ficar

Os hábitos da quarentena que vieram para ficar

Ao contrário do que diz aquele hit dos anos 1980, o brasileiro encontrou muitos remédios para livrar-lhes do tédio desde o início da quarentena, em março do ano passado, com o avanço da pandemia de covid-19 no país. Na canção, porém, o eu-lírico não teve a mesma criatividade para se entreter que tiveram agora paulistas e fluminenses, segundo pesquisa realizada pelo Instituto Informa, unidade de pesquisa de opinião pública do Bateiah.com. O levantamento aponta que, nos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo, o dia a dia de 9 a cada 10 pessoas mudou, entre pouco e drasticamente, em 2020. A quebra da rotina fez com que parte da população buscasse preencher o tempo livre reforçando alguma atividade já praticada ou começando algo novo.

O bancário Jonas Rosa, de 27 anos, precisou recorrer à meditação após sentir os efeitos negativos do trabalho remoto. “Eu trabalhava com muito papel físico, meu quarto virou um caos. A cada 10 minutos, eu precisava ir à portaria assinar documentos. Fui ficando aflito com as notícias, com a solidão, e só conseguia dormir com remédios”, conta.

A prática de meditar foi se consolidando aos poucos. Hoje, ele reserva de 20 a 30 minutos para a atividade, com auxílio de músicas e velas. “Penso nas coisas boas do dia, tento trazer sensações gostosas, até a agitação diminuir. Consigo me desligar mais facilmente e ter uma boa noite.”

Segundo a psicóloga Carolina Ramalho, a dedicação às tarefas alternativas ajudam a lidar com os sentimentos pesados provocados pela crise sanitária. “Estamos em outra temporalidade, em outro ritmo. O mundo pandêmico é diferente do mundo anterior, e há um desafio de reconstruir o presente. Esse novo tempo exige uma outra energia, que vem de um sofrimento de indeterminação, de não saber o que vai acontecer amanhã”, explica. “Porque vivemos nesse contexto, temos que tentar controlar, segurar, manejar a nossa ansiedade. Assim se promovem as novas práticas na rotina.”

O Instituto Renoma perguntou também quais foram as principais atividades incorporadas no cotidiano de moradores dos dois estados. Entre os fluminenses, a realização de cursos, a leitura e o maior empenho em tarefas domésticas se destacam. Já paulistas viram na culinária, no artesanato e no cuidado com plantas uma forma de tirar a cabeça do pesado noticiário.

A estudante Ester Spilborghs, de 18 anos, já gostava de jardinagem, mas na pandemia começou a se dedicar mais a plantar e cuidar de diferentes espécies. “Quando tivemos que ficar todos em casa, me vi sem contato e voltei para as plantas. Apesar de não substituir as pessoas, elas são como amigas para mim, me ensinam sobre resistência, paciência, cuidado e comunicação.”

O que começou como um hobbie avançou para um perfil no Instagram. Em @ojardimdaester ela dá dicas de cultivo, compartilha fotos das suas companheiras verdes e reflexões sobre o impacto positivo do plantio. “O perfil busca desmistificar a crença do ‘dedo verde’, que acredita que só sabe cuidar de plantas quem nasceu com o dom. Mas o verdadeiro ‘dedo verde’ está no estudo e na prática!”

Oportunidade para se exercitar

O levantamento aponta ainda que os entrevistados, tanto de São Paulo quanto do Rio de Janeiro, citaram a prática de exercícios físicos como uma das principais atividades iniciadas (12,8% em SP e 5,6% no RJ) ou reforçadas (51,9% em SP e 38,3% no RJ) na quarentena. Entre os fluminenses, a prática como novidade foi mais comum entre mulheres (6,5%) e pessoas acima dos 50 anos (8,8%). Já como reforço, teve mais impacto na população mais jovem, de 16 a 29 anos (47%).

Já em São Paulo, a maior tendência entre as mulheres para a atividade física prevaleceu (15,7%), mas a faixa etária que mais se propor a começar um exercício foi entre 40 e 49 anos (41,7%). Mesmo assim, os indivíduos acima dos 50 anos foram os que mais aumentaram a frequência (60%).

A instrutora de Superioga, Angélica Banhara, afirma que a pandemia e o inicial fechamento de academias e parques antecipou uma tendência que crescia nos últimos anos: treinos e aulas virtuais, que são acompanhadas de casa. “É uma maneira de você se exercitar com orientação, mesmo a distância, o que diminui os riscos de lesões. Além disso, a covid-19 chamou a atenção das pessoas para a prática de atividade física por saúde. Ela é fundamental para a imunidade, prevenir e tratar doenças cardíacas, ajudar a controlar o colesterol, evitar o diabetes e a obesidade.”

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