Carente de testagem, coronavírus traz incertezas e medo

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Assim que a pandemia do novo coronavírus começou, vários itens médico-hospitalares se tornaram escassos diante da demanda alavancada de uma hora para outra. Faltaram álcool em gel, Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), respiradores, medicamentos sedativos e antibióticos usados no tratamento e na intubação de pacientes com covid-19 em estado grave. Um outro insumo que sumiu nos primeiros meses da doença foram os kits para testagem para confirmar a presença do vírus.

Ainda hoje, já às vésperas da tão aguardada vacinação, o Brasil testa pouco sua população para a doença. Muitas pessoas sentiram sintomas relacionados à covid, mas não tiveram a chance de confirmar ou descartar o diagnóstico por conta da falta de testes. É o caso de Ivanilda da Cruz, 45 anos, faxineira, que mora em Itaquera, zona leste da capital paulista. Ivan, um dos sete irmãos, teve covid em abril e passou sete dias na UTI, intubado. Meses depois, foi a vez da irmã Ivonete e da sobrinha Ellen terem uma forma mais branda da doença.

“Senti dor no corpo, nariz escorrendo e febre, mas logo passou. Gostaria de ter feito o teste para saber se estava doente, mas foi em uma época em que só deveria procurar o hospital quem estivesse com sintomas muito mais graves, então acabei ficando sem ter certeza do que estava acontecendo”, diz Ivanilda.

Quando soube que o irmão estava contaminado, o medo de Ivanilda em relação ao novo vírus aumentou e ela ficou ainda mais cuidadosa. Passou a higienizar as compras de supermercado, por exemplo. No transporte coletivo, não abre mão da máscara e se mantém longe das aglomerações quando é possível. Além disso, deixou de receber a família em casa e só recentemente voltou a frequentar a igreja.

O comportamento da paulistana está alinhado com o que mostra a pesquisa feita pelo Instituto Informa, unidade de negócio da Bateiah Estratégia e Reputação em dezembro de 2020. Entre os entrevistados do estado de São Paulo que conhecem alguém que pegou covid-19 (73,1% de uma base de 562 pesquisados), 76,5% dizem que o medo da doença aumentou.

Entre os fluminenses (519 entrevistados), é maior o número de pessoas que tem algum conhecido contaminado pelo vírus: 84,9%. Desse total, 86,1% admitiram sentir mais medo hoje. O Rio de Janeiro está entre os estados com os piores índices de mortes por covid no Brasil.

Ivanilda tem esperança a vacinação traga a rotina de antes da pandemia de volta. Até lá, mantém a cautela: “Usar máscara é chato, mas tem de usar e eu não abro mão.”

Sem confirmação, sobram incertezas
A testagem permite aos epidemiologistas, por exemplo, confirmar a prevalência do vírus e seus efeitos em diferentes perfis populacionais e tem um papel importante na definição de qual deve ser a prioridade no programa de vacinação, explica Juarez Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações.

Os testes também são uma ferramenta importante para os pesquisadores acompanharem de perto o comportamento do vírus e as mutações. No caso do SARS-CoV-2, suas variações são classificadas em linhagens segundo as diferenças apresentadas no material genético. Hoje, por exemplo, se sabe que há até agora no Brasil dois casos da variante britânica do Sars CoV-2.

Mas como as testagens são em número muito pequeno em relação ao total de pacientes infectados, pode haver mais mutações do que se sabe circulando entre a população brasileira.

Estudo de pesquisadores do Instituto de Comunicação e Informação Científica em Saúde (Icict/Fiocruz) publicado na Nota Técnica do Sistema MonitoraCovid-19 (“Cobertura e positividade dos testes para Sars-CoV2”), divulgado em 6 de janeiro, aponta que no Brasil, além das testagens serem em quantidade insuficiente e com pouco planejamento, nem sequer se pode contar com um indicador confiável. Isso porque o registro dos testes realizados e o total de resultados positivos para Covid-19 estão distribuídos por três diferentes sistemas de informação que apresentam sobreposições e inconsistências entre si. São eles o GAL, o eSUS-VE e o SIVEP-Gripe.

Mas esse não é o único problema apontado por especialistas. Ao contrário de países como Coreia do Sul, Nova Zelândia e China, no Brasil se optou pelo uso dos testes como forma de monitorar a incidência de casos confirmados e óbitos, o que, segundo
Raphael Saldanha, especialista em saúde pública do Icict e um dos autores do estudo, compromete os resultados tanto por serem mais limitados quanto pelo atraso em relação ao momento da infecção.

Falta informação, faltam estratégia
“A testagem é fundamental. Desde o início da pandemia se fala que uma das principais condutas seria a testagem rápida para ter informações sobre a saúde das pessoas e dos seus contatos. Mas como não havia um norte bem definido pelo Ministério da Saúde, esse tipo de estratégia ficou nas mãos de prefeitos e governadores. Isso teria evitado, por exemplo, que uma pessoa com o vírus contaminasse outros porque seus contatos seriam rastreados”, explica Cunha.

Por outro lado, o presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações lembra que hoje já se sabe que o contato com o vírus não garante que o doente desenvolveu imunidade para o resto da vida. “Ao contrário, no caso dos assintomáticos, o tempo de imunidade em geral não passa de três meses.”

Luiz Vicente Rizzo, diretor superintendente de pesquisa da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, lembra que o Brasil ainda não tem um inquérito sorológico com soroprevalência. Para o estudioso, essa seria uma informação importante para quando a população começar a ser vacinada porque permitiria acompanhar a chamada virada sorológica, ou seja, se quem recebeu a imunização não tinha o anticorpo e passou a ter. “Esse dado traria a certeza de que aquela pessoa foi protegida”, explica.

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